sexta-feira, 22 de abril de 2016

palavras ao vento



desse léxico de estáticos limiares
fermenta a madrugada nas vagas sombrias
de não se saber voz ou ventania
a empurrar fixamente as gentes
pesquisando no céu espaços de mistério
para onde caminham as nuvens...
é incerto
do descontentamento inquieto
poderia nascer um verso
com todo o asco pela palavra universo

o vento importuna
desnorteia-me o pensamento
deixa-me o corpo inquieto
os cabelos nos olhos
as folhas reviradas
o cigarro se apagando
o lixo dos outros
o bafo do rio
e um grito devolvido
se estampando no rosto
o verso feito e refeito
e de um só feito: aventá-lo
ao espaço saturado das coisas
que não lhe pertencem
todos os ares remoídos
me vencem

que reconheço eu?
este silêncio que é só meu
os outros pensam a favor do vento
riem de tudo, não dizem nada
há uma ordem que me excluo
numa altura que não sinto
da frente militante da alma
do fascínio pelo corpo na sombra
através da cortina do vento espesso
balanço
essa amputação de forças interiores
onde tudo é passageiro
passa o sentido entre os outros
numa identidade sem nome
a inspiração é algo insuportável
para um grande ansioso
obsessivamente quero ver para além
e o verso não se invade do concreto
farto desta película de brancura
donde não se esboçam lábios
de ternura
o vento gela, rasga, desmancha
o que posso descrever é senão a raiva
do próprio poema que não se encontra

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