quarta-feira, 18 de março de 2020

o clarão que traz à memória


a caixa negra pregada na parede
ecos de sirenes sentinelas de muros
segundos de metamorfoses horas

cavam-se as trincheiras da solidão
com as mãos atómicas, tudo passado relâmpago
deixou-se cair o céu no regaço
covas, fortalezas do espírito
um camião carrossel de projécteis de sonho
atirado à beira da estrada
para agora seguir à boleia do acaso
há um enorme mapa pendente
traçado a espesso círculo um lugar dúbio
que os óculos embaciados não assumem
dinamitar os extractos da montanha
e assumir o deserto de areias dunas de pó
a bússola uma rampa de levantamento
que posição bestial para alcançar o centro da terra
ou o limiar dos tectos atmosféricos
sair do espírito como o suor que rompe os poros
em pequenas gotas salgadas
num só gesto de implosão engolir a força gravitacional
ser um continuum multiverso para correr para nada
quando um tanque de homens esgotados sujos de terra
começar a cair da chuva miúda
um general de carne e osso aplainando rasando o horizonte
e um enjoo de tontura dentro da lona epidérmica
os homens que antes envergaram a luz
agora relógios antiquados de tampas com mola
repetem o mantra combalido do desespero
pousam as armas junto ao muro e ao lugar vazio das reservas
são soldados andróides sem retorno
frios capacetes de aço que não escondem rostos
sabem apenas correr aos ziguezagues
obedecendo aos silêncios das alturas
ao volante de uma consola plantada
na estufa apática da nave que carregam ao pescoço
só o roncar ao longe do avanço de um globo enferrujado
pincelado de ocre calejado atirado involuntário ao abismo

nesse lugar dúbio de existência
um livro aberto folheado pelo vento
as páginas desertos pontos de reticências
os homens mecânicos
e qualquer coisa ardente palpitante fraturante
uma semente rompendo a vingar a morte
que sem vida deambula pelo desfoque do sonho
comiserada pela estagnação do sangue

a caixa negra pregada na parede
para lembrar a quem puder um dia encontrar
 - escuto o murmúrio dentro do búzio
   ecos de canções que embalavam o tempo e o espaço
   para equilibrar dentro da alma um Homem










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