do silêncio olímpico levantam-se
com toda a velocidade dedilhando
o poder infiltrante das medusas
que o tempo nos devora e mastiga
céus muito negros de vagos encontrados
do silêncio olímpico levantam-se
um labirinto de artérias de verdes
com uma espécie de candura luminosa
espaçada de lugares e coisas para sobreviver
guardam-se pérolas em ferida
as forças do ludo magro e negro
um oceano aquilino abismal e primitivo
para engolir o sangue dos anfíbios
um sonho povoado de prata lunar
e mistérios inominais
andam de gatas sem guarnição
de olhos aguados ventres caídos
e peregrinações de vago
fica-se farto de fronteiras
quando se emerge do aquático ao aéreo
Aqui tudo muda, o nosso corpo pesa
blocos de pedra outrora pantanosa
o sol escalda sofre-se de suor
e um cão invisível persegue-nos as pernas
o som escapa-se de latidos furibundos
faz-se uma pausa para enterrar os barcos
na areia desenham-se passos
e fanfarras de pássaros comitiva
somos fragata de ossos suicida
semanas de divagação cerrada a bordo
de uma carroça cilíndrica voadora
uma matilha de nuvens carregadas
correntes de inesgotável dor
para urinar de dentro para fora
ser sitiado de memórias encardidas
desciam do além céu para restos
bocados de braços, unhas, cabelos
que uma e outra vez foram sedimentados
Fica o riso de uma gaivota em improviso...
para nos revolvermos de acento
a placenta que nos escapa dos pés
efisema dérmico que nos atravessa de nós
um conteúdo estomacal para ser revirado
na varanda de uma venia gatos desparasitantes de uma cidade acrónima
fios de abóbora parquimentados e cactos espinhados de dormência pendular
parecem trombones de alarme nuclear
a mente um pedaço escrotinado de horas
milagres que vendemos, paletes de remos
sem oceano
às tantas, dizem que estamos perto do fim
assim, gritando ou sussurando
dizem-nos que está tudo feito ou tudo pronto
e assim para nos entregarmos ao ponto
numa plataforma aérea levanta se o corpo avião
alguns já avioneta
como uma seta, uma linha aritmética
porque nos falta o ar, escrevemos em qualquer porto, qualquer encontro
qualquer aborto do que nos fizeram
serve de porto, porta, aberta
todas as portas estavam escancaradas
quase que não foi preciso baterem me
e ainda assim levei porrada
de todos os flancos de mim
porque só assim, de amasso
poderia ter nascido
uma e outra vez do começo
uma e outra vez de perfeito
ou pelo menos, todos achamos que sim
os canais fonéticos da alma são poros
as luzes trepam pelas paredes
parecem cílios retorcidos ao vento
as nuvens em baixo são tecido ou lençol
que um voo é muito mais do que vertical
a teoria desenvolve se no atestado de um mito
o livro é uma Bíblia ou um caderno de contas
o recosto da cadeira é um posto
e quando nos encostamos
o objecto tornar-se espinha dorsal
corda de instrumento tocado fora de pauta
alienado de cinzeiro onde o cigarro
é buraco no tempo
também encontras muitos buracos no tempo?