domingo, 7 de junho de 2015
a morte contada assim...
um homem agravado pela miopia
a luz o progresso cambaleando
seria a divagação
se penteia com dentes de tartaruga
a sombra do astro o único espelho
escuta a dor em vez do chilrear
e a formigação em vez da trepidação
era um homem dez vezes maior
cujo esqueleto curvado alcova
e as gentes que o sentia chegar
temia o mal numa correria trinco
o pavio da lamparina apagar
as panelas se sossegam ao lume
e as mãos se recolhem na reza
Santa Mãe Terra de mil filhos
deixa que viva mais um ciclo
encaminha e afasta a agonia
vai a passar a gigante morte
que pela nossa porta não pare
que pelas suas mãos não ceife
tudo o que a nós destes vida
para que as gentes semeie
e um dia o gigante homem
deixou mesmo de passar
e as gentes se começou perguntar:
-E agora qué feito da nossa hora?
As gentes não sabe o que fazer
a tanto tempo alheio de viver
as gentes não sabe o que fazer
quando a morte não lhe vem colher
havia os eufóricos claro
os sem medo do medo que antes
tudo era razão para não viver
mas os que sofriam
os cansados, os satisfeitos
os finalizados, os perdidos
e os acasos que afinal serviam...
querendo partir não ser capazes
condenados a morrer sem morrer
e a vida não mais como relíquia
apenas um castigo de ficar por ali
falecendo
num tempo sempre o mesmo
então as gentes se reuniu e pensou
as gentes tomou livre arbítrio
e criou um tribunal do juízo final
dos mais gentes os escolhidos
para ser decidido as suas horas
e foi, foi ver
uma certa miopia a chegar
e o corpo a crescer sem parar
gigantes gentes cambaleando
tomando a morte como vontade
e toda a mais pequena lágrima
ou chamamento era cumprido
e afinal viver era fácil
se não fosse a morte chamava
porque as gentes é que sabe!
e as gentes se reuniu e chorou
e chamou por algo maior
algo que não fosse gente
que ninguém conhecesse
que não fosse entendido
para poder sentir o alívio
de viver sem compreender
o mistério de estar vivo
A morte.
Ad arbitrium.
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