segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
esse verbo intransitivo
abro os dedos
são buracos de trânsito
triângulos de teia
convidando à queda da areia
quente, fecunda, o alimento
dessa tirânica forma de gaiola
impedir o eco da aranha
erotizando o espaço tropical
os horizontes são referência
tudo é solúvel no mar de deixas
num enorme corredor branco
das trágicas canções de adeus
filantropo sem gravidade
vejo-me escorregando
super-homem, ícaro
a turbulência de um desastre
mantenho-me dirigível
são segundos de aproximação
sou grão
nunca fui lanterna de farol
nem o dorso de duna virginal
imagino fita-adesiva
como medida pós curativa
desconjunte-se-me tudo
fios de nylon para coser cabelos
talvez os cabelos fiquem
este tango dolorosamente lento
um chão que nunca mais é céu
as garrafas enchem o mar
das mensagens que ficam por dizer
um dia pode acontecer
por razão puramente aleatória
que a minha garrafa regresse a casa
sinto-me voyeur da morte que não chega
a terra parece que se afasta
há qualquer coisa de impossível
vira-se a terra ao contrário
pareço regressar à mão
sou novamente buraco
atado em triângulos de linhas
sinto-me em trânsito
alimento, aranha, teia
desapareceste-me sem deixar eco
uma trágica canção de adeus
sem morto
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