domingo, 13 de dezembro de 2015

sincronismo sem despertar


acordar
de animal anfíbio de estado
dos alicerces mais dispersos
as pedras caladas sem clamores
pelos flagelos da caminhada
a multidão, unidade, fusão
um corpo revirado de patas no ar
tenho pequenas lâminas de perdição
escamífero sou do coração
pertencer a um aparelho acústico
pregas e bolsas, anéis de tons alterados
na longa noite biológica, ruído
e tendões pneumático-delirantes
gira um pneu vazio no alcatrão
do chão do quarto há
palavras que não chegam
em dupla herança ser velho e principiante
do duplo pensamento articulado
como brinquedo electrostático
sonho o enorme vazio das horas
a vibração transparece, aglomera
montanhas de atmosfera saturada
um lento olhar em volta comprime
feições de um gigante incompleto
tudo é uma casa-jaula
em forma de losango
a pigmentação da tristeza
arlequim do afecto
talvez porque o mundo exista lá fora
com toda a sua frieza
a pele tece a sua seda
e as estrias da alvorada rompem
não se sabe se galopa se trota
balança, solavanco
o dia de puro sangue avançando
no braço de uma grua de ontem
mutilando a felinidade degustativa
imaginar fatias do dia-a-dia
fatias douradas na cama fria
um painel de parede
de cerâmica de cinza
carimbos de língua e sintomas de limbos
um bunker do remorso uterino
...impacientes os gestos da vida
nivelando o movimento ondulatório da massa
rarefazer a estética volátil da alma
o cimento sufoca
um bando de pássaro dá os bons dias
um bando de pássaros parece mais denso
uma maré de escuridão escorregando no céu
esse céu cúpula e estação
livre para aterragem na supressão
de asas magras
as aves andam suicidas
radar, um território elástico
vertigem iminente, bolha morfológica
temos tanto para dizer sobre nós próprios
arquejar o horizonte sem pálpebras
a concentração imóvel dos aspectos escondidos
dos dedos de ninguém premir o esqueleto
um conjunto de ossos recortado do vazio
catapulta de poços e crateras sem lágrima
capturar os invólucros do sistema
para um terraço azul de pássaros exóticos
e extrair uma ideia de distância
do reino subterrâneo da ausência
fixando fragmentário o ponto luminoso
esse mapa celeste a partir do zénite
a olho nu, o instante parece mais longe
giram satélites na perpetuação exacta
giram as minhas ossadas fora de alma

que acordar não é para todas







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