quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
In pace
no subterrâneo da falência
o grande grito que atravessa
radiação eterna passional
testemunhar a queda dos homens
das ideias criatura trivial
ao fundo um submarino evacuado
coroando a beleza do hálito do fogo
essas linhas de momento redentor
que a água e o sal apagaram
o defeito é maculado
blasfemar contra quê?
a presença materna inolvidável
engomado, o fato dos domingos
a pátria é mãe, deus é pai
rendeu-se o espírito a isto
tangem os sinos da decadência
suspensas lâmpadas fundidas
cabeças rolando a bruto
correias de coro, bilhas de barro
dar ao fole para se aguentar
a cripta pitoresca é só mais um lugar
impróprio da flexibilidade vital
os lábios encerram-se para sempre
atravessam as paredes terrores diurnos
pedaços de ventre passam para este lado
das profundezas da terra disforme
parece haver um corredor da morte
porque nos chegam esses soldados
um a um dando à costa da consciência
para nos lembrar que os corpos flutuam
quando ainda lhes corre por dentro o ar
agoniza lentamente, a dor de encontrar gente
caminhando por aí em conjecturas de liberdade
a nudez da miséria de espírito
porque se lhes lê nos ombros o peso das grades
as dores da cruz, a falta de luz
com unhas e dentes, feras de garganta seca
mentem, enganam a própria sorte
que pensam? que perderam o norte
e criou uma mãe e um pai um filho
para ser um penitente sem castigo
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
subversão de Fausto
contemplo
o recreio dos pássaros nocturnos
fora da gaiola de arame
por esse baldio escanzelado
condescendente a um inverno corolário
bisontes de companhia pastando
incisões de branco, o vinco dos dias
o demónio fugindo da cruz
gestos metódicos do horizonte
baloiçar numa cadeira de verga
o coração palpitante das ondas
conservadas agora em mantos de gelo
rasgar o céu em acrobacia sesta
a grande boca carnal do sol
digestão para a quietude idílica
orifícios do corpo em aberto
fazendo o caminho in verso
no dorso da terra a catarse
sob o estertor da morte, derretendo-se
cantos de calor confortante
o tufo da inércia de nenúfar em nenúfar
o tempo em câmara lenta, frisante
ser um planeta agravítico, embolia
serão as nuvens trapézios de descanso
as pedras do caminho intempéries
pelos estendais da felicidade
devolvidas agora ao claustro materno
rememorar a excitação de soletrar
gestos sincronizados pelos escombros
Mefistófeles apostando em falso
que alma pode colher o diabo?
esse fetiche de pensamento desviado
antídoto para lugares comuns
a impressão deambulatória
alguém nos espreita pelo buraco da lua
domingo, 24 de janeiro de 2016
alma helénica
o vazio que nos enche
o que diferencia uma casa de um escultura?
a coluna termina com o capitel mental
a cabeça do foguete que se esbarra no céu
uma vez tentei medir a sua longevidade
sempre estriado esse templo de entes danados
a planta, se a pudesse contemplar de cima
seria em aresta viva, a ponta do lençol
que encobre a terra na medida das estrelas
o peso do tecto é elasticamente leve
como se fosse uma árvore mas feita de penas
a mente decompõe-se em motivos de cheio e vazio
vai pouco a pouco atenuando-se sem que seja datada
das lápides dos tributos mais antigos
dórios que são ainda visíveis na noite negra
quando a terra gira sinto calafrios de altura
o diafragma em cadafalso, os pés levantam
dessa força centrista o efeito de desaparecer
a sustentação de um animal no ar, levitando
superar a atmosfera terrena, a linguagem material
para que serão precisas casas?
a diáspora das almas que se despedem
para depois engrossar o oceano de choro
lívido, esse manto virgem de retornados
os magníficos deuses não estão nos cemitérios
são fachadas de templos e esculturas de mármore
figuras que sustentam o tecto
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
ciclos de vida
O nascer...porquê?
o ciclo das nove luas
as mãos em concha convidativas
à pérola mais íntima
patchouli queimando
a força hipnótica do mar
cumpre-se a vingança de existir
dança a alma sobre a crista da onda
a hidromancia para apaziguar
pedra da lua, do sol, âmbar
no pêndulo, o pavio, as conchas
expirar devagar abdominal
visualizar a célula portadora
ser um mero executante da eternidade
a vida clarividente do nascimento
o diagrama da árvore do elixir
a fermentar, baloiçando a cadeira
tricotando a alcofa, aguardando o rosto
esse inefável rosto universal
a morte ou o inferno?
ânsias, espasmo de beleza vadia
a civilização do luar cerrado
conspirando ventura e coragem
sentir-se possesso de êxtase
essa psicótica alfabética reza
a língua deixa de ser um vínculo
dobrando o cabo dos vivos
ritmos em caracteres em catadupa
moldes de enevoados losangos
anda o céu aritmético cubista
extinguindo-se nas farpas os fardos
ruínas em forma de estrelas
há o estalar do verniz celestial
enternece-se algo de bestial
acrobata, a província das lamurias
o circo dos alívios atracando
arfar de texto aglutinante
palavras sem amanhã finalmente
o limbo..por cá andar
há troféus de sombra sem carne
há magoadas horas sem saudade
entre cristais que não adivinham mais
a febre, o timbre, o véu da invisibilidade
deste castigo que é não chegar ao fim
cobiçar, a comunhão de um arrepio
o deslumbre do regresso a dentro
deixar-se derivar pelo solo onírico
asceta de sentidos universais
prados de castiçais sem pavio
a alma em roda livre sem repouso
movimento perpétuo sem desígnio
ficar aos pés da catedral sem permissão
não há reflexo, não há ninguém
as mães aliviadas dos seus frutos
nove luas de ventre liso
até o tempo é improviso
ecos refractados polidos de solidão
o ciclo das nove luas
as mãos em concha convidativas
à pérola mais íntima
patchouli queimando
a força hipnótica do mar
cumpre-se a vingança de existir
dança a alma sobre a crista da onda
a hidromancia para apaziguar
pedra da lua, do sol, âmbar
no pêndulo, o pavio, as conchas
expirar devagar abdominal
visualizar a célula portadora
ser um mero executante da eternidade
a vida clarividente do nascimento
o diagrama da árvore do elixir
a fermentar, baloiçando a cadeira
tricotando a alcofa, aguardando o rosto
esse inefável rosto universal
a morte ou o inferno?
ânsias, espasmo de beleza vadia
a civilização do luar cerrado
conspirando ventura e coragem
sentir-se possesso de êxtase
essa psicótica alfabética reza
a língua deixa de ser um vínculo
dobrando o cabo dos vivos
ritmos em caracteres em catadupa
moldes de enevoados losangos
anda o céu aritmético cubista
extinguindo-se nas farpas os fardos
ruínas em forma de estrelas
há o estalar do verniz celestial
enternece-se algo de bestial
acrobata, a província das lamurias
o circo dos alívios atracando
arfar de texto aglutinante
palavras sem amanhã finalmente
o limbo..por cá andar
há troféus de sombra sem carne
há magoadas horas sem saudade
entre cristais que não adivinham mais
a febre, o timbre, o véu da invisibilidade
deste castigo que é não chegar ao fim
cobiçar, a comunhão de um arrepio
o deslumbre do regresso a dentro
deixar-se derivar pelo solo onírico
asceta de sentidos universais
prados de castiçais sem pavio
a alma em roda livre sem repouso
movimento perpétuo sem desígnio
ficar aos pés da catedral sem permissão
não há reflexo, não há ninguém
as mães aliviadas dos seus frutos
nove luas de ventre liso
até o tempo é improviso
ecos refractados polidos de solidão
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
o que importa é precioso
sinto que estava confinado a um lugar permanente
que fui até aqui instrumento numa mão impotente
olho agora para essa mão que me pertence
sinto o poder nas veias salientes latejando
tenho o dever de a usar para lapidar a minha alma
da amputação de partes mentais que não fazem falta
a instalação de um homem faminto de invenções
o que nos acompanha na locomoção silencioso
é o recrutamento permanente de um novo indivíduo
uma pausa nos trabalhos antes do cabelo branqueado
porque o maior trabalho só alimenta a alma
e é estritamente amadorístico
tudo tem a aparência de uma aparente incoerência
na mão do morto procurar-se pelos resíduos da vida
as linhas do destino apagadas por calosidades madrastas
a primeira bala apanha-nos sempre desprevenidos
os primeiros sinais de doença, as primeiras quedas
sentir o sangue vivo esvaindo-se pelos buracos
tenho agora novas armas para combater a morte
pertenço agora a uma nova espécie de vivos
estranhamente tranquilos e felizes
não sei absolutamente nada de concreto sobre nada
e é por isso que tudo é uma descoberta
ou sei tudo sobre tudo o que vale a pena saber
e é por isso que tudo é um encontro
sinto que é o chão que está acabado de fazer
que a esse chão hei-de pertencer ainda que inacabado
e procurar verdades abolido de condenação
é dar corda à cinestesia elástica do coração
a maioria das pessoas não acredita no pós vida
está certo
o que importa está connosco
para depois, temos o sonho
não estamos aqui para provar nada
estamos aqui para provar de tudo
(para os meus pais)
sábado, 16 de janeiro de 2016
algoritmo de deus
a sabedoria permanece dormente
foguetões a mandriar pelo espaço
que sabemos nós do para além?
o mistério de um charme hipnótico
a conduta pelos veios do labirinto
o coração há-de ser comutador
nunca se repetir a mesma combinação
e o olhar há-de ser vasto extinto
no arame, o pavio, a ventilação
no limbo milagre da multiplicação
tudo é concha de lúcido abrigo
o claustro, a clausura, o céu, a lua
as excitações da carne um sem sentir
pousar, passear na crosta frígida
os dias mortais podiam ser poesia
desvanecendo-se a imensa planície
em passos lentos acromáticos
de alguém com direito à solidão
há uma peça oculta dentro do cubo
colapsamos à velocidade do vento
esse parapente egoísta de querer
ser para além da vista, envelhecer
um deus microscópico ocultista
fundindo-se a morte informulada
as portas do futuro tridimensionais
as linhas compreensíveis do tempo
longe de um reino subterrâneo
somos viajantes de mutação notável
porque temos nas mãos, no destino
a força centrífuga do coração
a mim me soa viver como peça solta
e giratória, a trajectória desconfiguração
nunca a lógica me levou a um padrão
ou poema seria matriz para descrever
mas o ciclo serve melhor o poeta
não fosse o poema um cubo mágico
procuro ainda a configuração mínima
para nas palavras certas abandonar
a mensagem mais perfeita de deus
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
a resiliência de quem sonha
ainda a noite é órfã de estrelas
e a última das garças se demora
como o sol tem o hábito de fazer
lá para trás do ângulo morto
escolhe uma canção para levitar
levanta-se neste coração teimoso
uma vontade mórbida de comer a terra
não tarda, todos seremos parte dela
tem a duração de um inspiro
no formato de um pentágono
metrópoles despidas de ocasos
a única maravilha do mundo
a alma se despegando da carne
deixando o mundo aos acasos
das minhas próprias mãos
levantar-se voando essa vontade
devolver ao universo momentos
depois de calcorrear léguas de real
aos seus destinatários entregar-me
nas copas das árvores adormecer
aonde se intersecta o sonho
pega-se aos dedos a ilusão
na estranha caligrafia pós vida
para ser dissolvida na pedra comum
com a brutalidade da palidez do fim
a terra há-de envolver-nos
com toda a fome da eternidade
se nutrindo do que deixamos
da delgada película da memória
patamares físicos das compensações
arte ofício da eutanásia das sensações
sempre foi todos os dias que envelhecemos
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
a hora do fim
vai soando a hora da despedida
tochas malditas
encontramo-nos vivos na hora da partida
ao amparo
o céu toldado de olhos acesos
vampiros
da tumba um deus de última hora
retornado
a proibição de lhe proferir oração
no holocausto
lutaremos corpo a corpo
restam escassos prantos da vida
a dor vinha dizer-nos adeus
no mesmo lugar de sempre
um estranho sentimento além túmulo
ouvi bater a minha hora mais devagar
ponteiros de raios de luar
na orla de uma vontade súbita
fulgurantes poentes
uma face de miniaturas
a lua ao longe cabe-nos na mão
vigas, cordas, pano cru
projectaremos as sombras
roseiras, silvas, espinhos
atónito, o pavor do coração
como um fole
a melodia que atiça a alma
adivinha-se uma cabeça oculta
punhos de gesso
batentes, algazarra, largada
a genuinidade em processo
as matizes meditativas
indivisíveis a um só plano
da genealogia a distância
o misterioso sentimento de falta
liberto o espaço omnipresente
as efusões comprometem o tempo
sentimos tão pouco
a felicidade que dura tão pouco
vai e vem, esse balancé de ternura
a animosidade da consciência
para o encarar da viagem
um núcleo mistério de luz canda
a incandescência cega
para dar à luz a escuridão
podemos viajar pela fé
com a pacatez de quem não tem nada a perder
havemos de começar sempre alguém
alguém que se encontra antes do fim
imagino xamãs exilados do corpo
um corpo comum aquietado sem mundo
o sobrenatural é apenas o espírito
talvez seja apenas um delírio místico
e pensar que poderia encontrar
deus por aí a caminhar
lado a lado ao comum do mortal
entediado
ainda longe seremos à imagem
guindaste, grua, pêndulo sem mão
ou propósito de construção
diz que deus está na deambulação
e eu tenho tanta fome de dispersão
são as vespertinas nauseas
o canto dilacerante da infância
ainda ontem me vi nascer
a viga mestra que acaba por ser
o alicerce próprio do fim
se ocupando do tempo das lágrimas
o luto dos espíritos marciais
o paladar da eternidade é amargo
da matéria prima da alma uma ogiva
oxidando-se à chuva
depois de morrermos, a obra acabou.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
porque eu sou a ventania
sinto-me apegar
ao horizonte da idealidade
a perpétua transformação evidente
das coisas ditas depois de ditas
os abalos da condição soberana
de todas as redundâncias
ao empirismo com cautela
o ciclo da origem sem memória
para a interrogação fundamental
ah verdades novas, que significado?
são as brincas dos elementos
retomar as formas dos mitos
bizarrias do espírito do vento
feixes penetrantes sem manifesto
quero ser para além da dispersão
do odor metrópole a putrefacção
do recriar de anamnese múltipla
campos inexplorados de lugar danado
quero ser a crueza das gentes
de harmónio crer desabitado
horas desmedidas de imenso
pessoa solitária sem oráculo
reanimação de coisa alguma
mas tudo se exaspera
a terra lúcida é sempre outra
onde se destina o que é nosso?
resta colher a transparência
o homem que experimenta a dor
que suporta a gravidade da sombra
repatriado para a melancolia
iluminado de vida extinta
hipotético gesto na paisagem
variáveis beleza e lágrima
entrego no presente a colheita
para campos rasos de solidão
privados de alegria nenhuma
para amanhã mais não.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
fóssil
à rebentação das palavras
tornar-se surdo contra o grande fundo
o depósito calcário
as ondas tomando de assalto
a magreza do substantivo
do estado da luz contra o rosto
da alma fluvial
o deslumbramento da confirmação das coisas
desmaiadas no limbo, lá fora
o rio é a lágrima da vergonha
com toda a suavidade que me é permitida
ser envolvida por mais nada
à urgência da calma
há no tecido do universo
algo de intimamente perverso
num fio de seda petrificado
o estado do desejo
o inesquecível faz-nos chorar
amar até à loucura
até a loucura é impotente
é o murmúrio das águas
o barulho do nosso sangue
esse equador em lugar de noite
há nódoas negras no céu
o tremer das pálpebras húmidas
absolvendo-se à própria carne
o sabor do vento, das tempestades
estado líquido
aqui tudo é fluído
do labirinto das massas
da ausência esmagadora da respiração
pode-se mesmo morrer
em estado astral foragido
ou ritmo lunar desconcertado
não mais suportar a ordem de deus
ser a clandestinidade natural
na parede do mar, aportar
as forças da mudança reunem-se
à tona de correntes imutáveis
a parte límpida não pergunta
escuto agora ecos de todas as espécies
na arca dos amantes
se desviasse a rota de mim
a doçura do fundo seria definitiva
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
um cão à chuva
o biombo da catamina
um cão à chuva
irriga a corrente sanguínea
a fonte do mundo pulsante
debaixo da terra na sombra
a corda do lençol estendido
coexistindo na indiferença
de se fazer sol
diques fora de alcance
a própria hora em que se nasce
o rosário de chumbo
para monólogos com deus
uma febre ácida
o som singular de um passo
sentindo nos braços
a náusea de uma alma
qualquer
como é pálida a silhueta
a curvatura da lua
partes do teu corpo, nua
a terra em socalcos
beijos pendurados nas encostas
a cura do vento rasgado
carrinhos de rolamentos
para nuances de caminhos
desencontrados
a noite vermelha ao poente
a cidade imóvel recolhida
na penumbra
por onde cai o pensamento
longas horas baloiçantes
na contraluz soluçadas
olhos de um azul anil
aniquilamento
como as mãos são asas
quando procuram outras
esse vaguear de abandono
encantamento
de raízes indomáveis
carrilhões de arrasto
da intersecção da vida
do engenho do amor
ser habitáculo
ou pássaro extraviado
da desaceleração do pulso
a espinha dorsal
as ruínas da infância
a mobília coberta de pó
o musgo trepando
pelo buraco da fechadura
o tempo não mais voltando
e até os despojos da vida
não os sentir como nossos
esse mercúrio dissolvente
era uma casa térrea
de atmosferas gritantes
alguns morrem em silêncio
a que soa o grito do moribundo?
mergulhar na obsessão do voo
em ecos menores de conivência
ser oferenda sem gratidão
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