O nascer...porquê?
o ciclo das nove luas
as mãos em concha convidativas
à pérola mais íntima
patchouli queimando
a força hipnótica do mar
cumpre-se a vingança de existir
dança a alma sobre a crista da onda
a hidromancia para apaziguar
pedra da lua, do sol, âmbar
no pêndulo, o pavio, as conchas
expirar devagar abdominal
visualizar a célula portadora
ser um mero executante da eternidade
a vida clarividente do nascimento
o diagrama da árvore do elixir
a fermentar, baloiçando a cadeira
tricotando a alcofa, aguardando o rosto
esse inefável rosto universal
a morte ou o inferno?
ânsias, espasmo de beleza vadia
a civilização do luar cerrado
conspirando ventura e coragem
sentir-se possesso de êxtase
essa psicótica alfabética reza
a língua deixa de ser um vínculo
dobrando o cabo dos vivos
ritmos em caracteres em catadupa
moldes de enevoados losangos
anda o céu aritmético cubista
extinguindo-se nas farpas os fardos
ruínas em forma de estrelas
há o estalar do verniz celestial
enternece-se algo de bestial
acrobata, a província das lamurias
o circo dos alívios atracando
arfar de texto aglutinante
palavras sem amanhã finalmente
o limbo..por cá andar
há troféus de sombra sem carne
há magoadas horas sem saudade
entre cristais que não adivinham mais
a febre, o timbre, o véu da invisibilidade
deste castigo que é não chegar ao fim
cobiçar, a comunhão de um arrepio
o deslumbre do regresso a dentro
deixar-se derivar pelo solo onírico
asceta de sentidos universais
prados de castiçais sem pavio
a alma em roda livre sem repouso
movimento perpétuo sem desígnio
ficar aos pés da catedral sem permissão
não há reflexo, não há ninguém
as mães aliviadas dos seus frutos
nove luas de ventre liso
até o tempo é improviso
ecos refractados polidos de solidão
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