terça-feira, 5 de janeiro de 2016
um cão à chuva
o biombo da catamina
um cão à chuva
irriga a corrente sanguínea
a fonte do mundo pulsante
debaixo da terra na sombra
a corda do lençol estendido
coexistindo na indiferença
de se fazer sol
diques fora de alcance
a própria hora em que se nasce
o rosário de chumbo
para monólogos com deus
uma febre ácida
o som singular de um passo
sentindo nos braços
a náusea de uma alma
qualquer
como é pálida a silhueta
a curvatura da lua
partes do teu corpo, nua
a terra em socalcos
beijos pendurados nas encostas
a cura do vento rasgado
carrinhos de rolamentos
para nuances de caminhos
desencontrados
a noite vermelha ao poente
a cidade imóvel recolhida
na penumbra
por onde cai o pensamento
longas horas baloiçantes
na contraluz soluçadas
olhos de um azul anil
aniquilamento
como as mãos são asas
quando procuram outras
esse vaguear de abandono
encantamento
de raízes indomáveis
carrilhões de arrasto
da intersecção da vida
do engenho do amor
ser habitáculo
ou pássaro extraviado
da desaceleração do pulso
a espinha dorsal
as ruínas da infância
a mobília coberta de pó
o musgo trepando
pelo buraco da fechadura
o tempo não mais voltando
e até os despojos da vida
não os sentir como nossos
esse mercúrio dissolvente
era uma casa térrea
de atmosferas gritantes
alguns morrem em silêncio
a que soa o grito do moribundo?
mergulhar na obsessão do voo
em ecos menores de conivência
ser oferenda sem gratidão
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