quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

o que importa é precioso


sinto que estava confinado a um lugar permanente
que fui até aqui instrumento numa mão impotente
olho agora para essa mão que me pertence
sinto o poder nas veias salientes latejando
tenho o dever de a usar para lapidar a minha alma

da amputação de partes mentais que não fazem falta
a instalação de um homem faminto de invenções
o que nos acompanha na locomoção silencioso
é o recrutamento permanente de um novo indivíduo
uma pausa nos trabalhos antes do cabelo branqueado
porque o maior trabalho só alimenta a alma
e é estritamente amadorístico

tudo tem a aparência de uma aparente incoerência
na mão do morto procurar-se pelos resíduos da vida
as linhas do destino apagadas por calosidades madrastas
a primeira bala apanha-nos sempre desprevenidos
os primeiros sinais de doença, as primeiras quedas
sentir o sangue vivo esvaindo-se pelos buracos

tenho agora novas armas para combater a morte
pertenço agora a uma nova espécie de vivos
estranhamente tranquilos e felizes

não sei absolutamente nada de concreto sobre nada
e é por isso que tudo é uma descoberta
ou sei tudo sobre tudo o que vale a pena saber
e é por isso que tudo é um encontro
sinto que é o chão que está acabado de fazer
que a esse chão hei-de pertencer ainda que inacabado
e procurar verdades abolido de condenação
é dar corda à cinestesia elástica do coração
a maioria das pessoas não acredita no pós vida
está certo

o que importa está connosco
para depois, temos o sonho
não estamos aqui para provar nada
estamos aqui para provar de tudo

(para os meus pais)


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