quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

a hora do fim



vai soando a hora da despedida
tochas malditas
encontramo-nos vivos na hora da partida
ao amparo
o céu toldado de olhos acesos
vampiros
da tumba um deus de última hora
retornado
a proibição de lhe proferir oração
no holocausto
lutaremos corpo a corpo
restam escassos prantos da vida
a dor vinha dizer-nos adeus
no mesmo lugar de sempre
um estranho sentimento além túmulo
ouvi bater a minha hora mais devagar
ponteiros de raios de luar
na orla de uma vontade súbita
fulgurantes poentes
uma face de miniaturas
a lua ao longe cabe-nos na mão
vigas, cordas, pano cru
projectaremos as sombras
roseiras, silvas, espinhos
atónito, o pavor do coração
como um fole
a melodia que atiça a alma
adivinha-se uma cabeça oculta
punhos de gesso
batentes, algazarra, largada
a genuinidade em processo
as matizes meditativas
indivisíveis a um só plano
da genealogia a distância
o misterioso sentimento de falta
liberto o espaço omnipresente
as efusões comprometem o tempo
sentimos tão pouco
a felicidade que dura tão pouco
vai e vem, esse balancé de ternura
a animosidade da consciência
para o encarar da viagem
um núcleo mistério de luz canda
a incandescência cega
para dar à luz a escuridão
podemos viajar pela fé
com a pacatez de quem não tem nada a perder
havemos de começar sempre alguém
alguém que se encontra antes do fim
imagino xamãs exilados do corpo
um corpo comum aquietado sem mundo
o sobrenatural é apenas o espírito
talvez seja apenas um delírio místico
e pensar que poderia encontrar
deus por aí a caminhar
lado a lado ao comum do mortal
entediado
ainda longe seremos à imagem
guindaste, grua, pêndulo sem mão
ou propósito de construção
diz que deus está na deambulação
e eu tenho tanta fome de dispersão
são as vespertinas nauseas
o canto dilacerante da infância
ainda ontem me vi nascer
a viga mestra que acaba por ser
o alicerce próprio do fim
se ocupando do tempo das lágrimas
o luto dos espíritos marciais
o paladar da eternidade é amargo
da matéria prima da alma uma ogiva
oxidando-se à chuva
depois de morrermos, a obra acabou.


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