segunda-feira, 10 de agosto de 2015
ao largo há uma onda que vago
como uma vaga de pacífico ângulo
o oceano mental é um espaço
onde primeiro há a escuridão
depois, pequenas notas de vegetação
e soberbos seres nos visitam
o tecido é plástico espástico
a resiliência ondulatória
onde se permite repousar
numa concha madrepérola
os canais do mundo submerso
são inertes e acaricia-los
criando a vida movimentória
mentora de si própria
como uma maré de pureza
chegar à praia
onde sereias podem caminhar
e saltar barreiras
fugas atrás do pensamento
que se quer cá fora
para investigar a cor da areia
e o desenho da sedimentação
num diálogo de criação
mística
podia ter-se partido numa pedra
um pedregulho lá do alto
atirado por mão severa
em tempos, se calculava a terra
e um farol para a viagem
dentro do navio encalhado
que se abeira nas areias secas
o mastro esguio tombado
para estados de um acto desesperado
almas que caminham no limbo
-e depois ficaste fria
dona dos canais sérios do mundo
olhos cinzentos
em acordes de causar arrepios
-vamos embora, disse-lhe uma última vez
os últimos pensamentos em golpes frágeis
as mãos por onde ela anda
pêndulos de tamanha tristeza
morria no horizonte a descoberta
o veneno deste corpo esperando
no chão de terra batida caminhando
o tema da pureza se esgotara na morte do artista
os anos fogem para serem mortais
-ando à procura da minha alma
numa esplanada projectada num jardim
numa ombreia de uma entrada sem porta
num quadrado do jornal de amanhã
no bilhete comprado com antecedência
porque ela partiu antes de mim
para me lembrar de segui-la
antes de me amargurar com a vida
e dormir na paz verdadeira do refúgio
onde o mar é tão profundo
como se o tempo parasse dormindo
e a viagem estivesse concluída
o ano da morte do artista
porque será tão importante?
é a recusa da vida que lhe faz sombra
que a vida é o sol que nos envelhece
supondo que não havia tempo
não estaríamos do mesmo modo
deambulando como carcaças ao largo?
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