quinta-feira, 27 de agosto de 2015
partem altas e possantes as caravelas
ao ângulo morto da vida
-exit now
caravelas postando ao horizonte traído
água-mágoa
tanta terra inóspita vencida
a conquilha onde o criador vivo será
caruma depois das sendas da criação
e uma jangada para ficarem as coisas de pasmar
mil voos sem memória inacabados
gente infinita, gente que se infinita
de acrobacias rasantes
o medo ainda de voar, trespassando, caindo devagar
aragens, sóis prestes a rebentar, poeira
detritos, lamas, o fundo das gentes
c´est ma tournée!
as fontes do desassossego revoltas
a linguagem de um homem só
em redor do improviso um ninho maldito
se elaborando uma saída ponteaguda
os veios da natureza entrançados para cutelos
desfiladeiros em formas estranhas
de significados desconcretizados
e a palavra seduzindo gota a gota
quando a sede é o único desespero
há coisas estranhas que nos deixam saudade
uma ideia proveta,
bolas de trapos pelos antigos aquedutos
e cardumes de multipensamentos dando à costa
mas há uma rede de estagnação imposta
onde só podemos sufocar de boca na areia
do meu peito partem caravelas rumo ao mistério
espécie de pesca de abismos à linha
na forma de universo inteiro eu respiro
o pensamento esganiçando-se
chamando às palavras vãos
apreciando as coisas mínimas
cifras da crosta emocional de verdade
e do encontro sem querer com o fundo
a existência sempre mal ancorada
ir ao encontro da cripta mais dura
de rascunhos precários erguer a vida
em pleno oceano o porão pesando a recordação
e o poder de continuar a navegar
enchendo os pulmões de ar novo e puro
talvez o mundo esteja enguiçado, mal contado
surripado...morto
que a minha caravela não chega a costa nenhuma
artefactos espalmados no céu mentindo
maus ventos levando-me para terras de cinza
e o dia que está no fim
as ondas que começam a aveludar
deitando dúvidas ao tempo de anoitecer
os últimos raios que escorrem no soar da hora
do despir da alma de tentativas
uma e outra vez de me mandar borda fora
fiando sem fim finais imperfeitos
homens, fantasmas, ecos de dentro
ecos desalmados de impérios sem sonho
tirando ao âmago das entranhas as raízes telúricas
para paisagens sem cura
tirando ao âmago das entranhas
o que não se acredita não se alcança
partem altas e possantes as caravelas
batendo nesse peito pedra
a ancoragem aos céus sabotados
desta inóspita existência
porque partimos?
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Que blog é este? gosto das conquilhas!
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