terça-feira, 19 de março de 2013

Amor de Irmã

Ana sobe e desce. Num raio de sol, os seus cabelos desenham pedaços de sonho no céu. Para cima e para baixo, as suas pernas empurram mais depressa. Se fossemos duas não estaria a olhar para um lugar vazio. Fechou os olhos e procurou um rosto. A sua irmã apareceu, pequena e gordinha como era aos cinco anos. As duas sempre pela mão uma da outra, como se fosse o seu bebé. Eram inseparáveis. E tinha por ela um amor de protecção que ás vezes lhe dava vontade de chorar. Como quando via outra criança a chorar, chorava também. Mas se fosse com ela mordia os lábios e nem uma lágrima. Catarina podia sempre contar com a irmã para tudo. Hoje...senti-a distante e indisponível. De vez em quando, em situações muito difíceis a irmã aparece e como quando era em criança, dá-lhe a mão e o coração. 

Esta noite tive um sonho. Em dois momentos diferentes. 

Uma casa pequena anexada a uma grande. Agora Ana recorda que foi a primeira casa dos seus pais onde viveu os primeiros meses. Mas aqui, a casa era sua. E morava com alguém. E tinham lá dentro tudo o que precisava para ser feliz. 

A casa é agora grande com imensos quartos, quartos tão grandes que cabem duas camas gigantes. Como quando partilhava o quarto com ela. E ela estava lá. Mas aqui é uma irritação grotesca que lhe toma o estado de espírito. Não tens o teu próprio quarto? Porque tens de estar no meu? E essa é a minha cama..já te deitaste? Não, sai daqui! Vais trazer convidados? E ficam para dormir? Trinta pessoas? Estás completamente louca!

E num terceiro momento, já entre o acordada e o sonho ouve alguém dizer-lhe: Tu sempre foste o ídolo dela. Ela sempre quis ser tão boa em tudo como tu, ela só quer estar contigo. Ela só quer a tua companhia.

 E aquelas lágrimas que as outras crianças provocavam nela em pequena, essa vontade imensa de chorar sem saber porquê voltou. Como uma imensa piedade por alguém mais frágil e que precisa de protecção. 

Acordou. Com a cabeça pesada e uma necessidade enorme de ligar à irmã. Estás bem? Estás a trabalhar? Quando nos encontramos? No outro dia ao telefone disseste que estavas a sentir-te só e sem amigas e eu não liguei nada, também me sinto assim..porque não nos encontramos? Lembras-te de como éramos tão próximas? Sim. 

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