sábado, 23 de março de 2013

Valsa Final



E o piano começa a tocar. Abismal, sinto a beleza nos seus pés.
Escuto a respiração de alguém, olho para trás..
a casa está vazia e a voz regressa..tão bom, tão bom..
Eles avançam. De mão estendida escolhem a sua bailarina. 
Ela branca, na delicadeza de um sopro rodopia pela sala. 
Afunilando cada memento, todas elas são ela. 
São jardins de begônias regadas de frágil atenção. 
Ela dorme agora no embalo de um adeus.
Que pode ele escutar senão a saudade? 
Talvez, talvez...uma última dança na quebra da folha...
Segreda-lhe ao ouvido, amor.

E o silêncio começa a quebrar. Quieto, sinto a paz nos seus olhos.
Escuto a respiração de alguém, olho para a frente...
a casa está completa e a voz regressa...tão bom, tão bom..   
Elas avançam. De mão estendida escolhem o seu par.
Ele negro, no triunfo de um gesto,corre pela sala.
Abstraindo cada momento, todos eles são demais.
São desertos ardidos de paixões feridas.
Ele sonha ainda no aconchego de um adeus.
Que pode ela escutar senão a solidão?
Talvez, talvez...uma única dança no virar da página..
Grita-lhe ao ouvido, agora.

E a palavra começa a faltar. Inferno, sinto o frio nestas linhas.
Escuto a respiração de alguém, olho para dentro...
a casa está de rastos e a voz regressa...tão bom, tão bom..
Eles não existem. De sombras varridas escolhem outro lar.
Transparência, na ausência de tudo, foge pela janela.
Absorvendo cada momento, tudo foi e partiu.
São lugares possessivos de verbos proibidos.
Eles não sabem tudo isto...
Que podem eles escutar senão a ilusão?
Talvez, talvez...nenhuma dança nesta vida...
Silêncio ao ouvido, nunca.

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