terça-feira, 8 de julho de 2014

Ainda há o início

do decote um laivo de vergonha
de um tostão de pudor se esconde
a máquina combate-se com corações
ao alto, ávidos e não serenos
tal pirilampos famintos de vício
de ser mais do que tudo isto
que se esconde nos segundos
que martelam o dia em anos
que nem monges tibetanos
ou anarquistas sem complexos
de ligação ao calendário concreto
agente não vê o que verdadeiramente
está, dimensões que se acamadam
brincando de esconde esconde
que adormece o escuro sem gesto
e de resto, a luz cega o cego
que depois de ver, se escurece
tal selvagem domesticando
a vontade de ser livre prendendo
ser pequeno ser alguém
ser toda a gente e afinal o espectro
de se ver ao espelho, ninguém
sonhei que era rei, escravo e mestre
criança, jovem pateta, cientista
e um velho que ao chegar ao final
se desconhece e contente se despede
sonhei de ser tanto e nada
de experimentos e deslumbramento
e o dia ao se ir acabando me foi dito
que amanhã ainda é dia, esperado
como se um livro sempre acabado
que se começa lendo da última página
só porque o início é um lugar
onde tudo ainda pode acontecer
a vida começada, ainda vale a pena
de viver

por isso, abri todo o decote
cortei-o e a serrote
abri o peito



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