segunda-feira, 30 de junho de 2014

Ainda lá está na plataforma a olhar o infinito



se chega à linha de mala aviada
para embarcar numa carruagem a dor
e manda-la para longe da vista
num bilhete de ida sem volta
e ela olha para nós, pequenina apertada
pedindo a mão para não ser deixada
como criança antes de ser abandonada
numa só volta, voltar atrás
ao momento em que a acolhemos
porque quisemos, porque escolhemos
e cabe apenas a nós cuidar dela
zelando para que não cresça noutro peito
como filha criminosa que não tem outro jeito
que a mãe não pode nunca voltar costas
o mundo inteiro assiste-se a esse direito
mas uma mãe não, do seu peito não se
separa nunca, ao invés, se transforma
em lágrima, saudade, nostalgia ou física
poesia de dor, filha do amor e da tristeza
e o pai? se pergunta se poderá cuidar dela?
por um dia, noite, uma semana, uma vida
ele não sabe ainda, que só ele pode cura-la
mas uma mãe receia sempre deixar a sua cria
confiar que com o mesmo empenho a embalem
a alimentem, a vistam de mais e mais sofrimento
para que cresça forte e capaz de possuir o pensamento
uma mãe quer o melhor para as suas crias, o melhor
de si, da sua vida, da vida dos outros e do mundo inteiro
nada lhe chega, um peito de leite amargo, de vazios olhos
e profundos abismos, uma mãe de morte e poesia da noite

e então
que chegando a velhas, juntas mãe e filha
olhando a labareda de uma lareira em cinza
de fracos movimentos, opiáceos momentos de apatia
no momento da partida a mãe sente uma dor maior
e nesse instante de ida, nasce dentro da barriga da filha
a morte em renovação cíclica do ventre, tal sina de gente
que não se escolheu ser gente, que não se nasceu contente
gente de um pai ausente, maior







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