na janela da rua do poeta
regam-se às oito em ponto
crisântemos amarelos e violeta
abrem-se com preguiça
cortinas de mágicos cogumelos
e o gato pardo ramelado
esfrega-se no parapeito
hoje é dia de passar o vestido
domingo de missa e bailarico
na mesa da cozinha se estendem
lençóis de farinha de trigo
e à rua correm as perninhas
do menino eusébio da silva
atrás de bola e das meninas
é preciso vinho e cebolas
trazer o troco nas ceroulas
hoje é dia de banho completo
vai o gato, a cadela e o canário
dia de véspera do salário
dia de jogo no estádio
dia do santo sair do altar
dia de namorar no páteo
dia da espiga ao campo apanhar
do topete armar as pestanas dobrar
e as pernas depilar
dia de mercado e do peixe assado
dia de visitar a avó no lar
dia de restos ao jantar
dia de reler a sebenta
dia de ligar a grafenola
dia de mecânica e costura
dia de arrumação profunda
dia de obra parada
e fábrica fechada
dia de untar as lâmpadas
dia de sesta e pança cheia
de sobremesa e digestivo
de cortar o pêlo ao filho
e as unhas ao marido
de beijar a bandeira e o cristo
e talvez mais à noitinha
dia de fazer mais um filho
porque hoje é Domingo
dia de Portugal
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