as contas do meu terço
escutam o que vai cá dentro
Deus, se te agradeço
é porque me sinto em paz
faz de conta que aceitas
que sou tua filha de berço
porque não crescem as plantas
e o meu leite seca no peito
orar se me acalma
estou cansada de lutar
em todas as linhas
há-de haver uma rima
tão certa, tão minha
és tu? que me assumes raiva
estás em toda a parte
e não te sinto em nada
ingrata?
não saberei olhar
então ensina-me
não falo só em meu nome
o que fazem os homens de si?
o que fazem eles aqui?
guerra, fome, doença, morte
ódio, inveja, roubo, mentira
deste inteligência e afecto
a animais que coleccionam
materiais
controlo, poder, fronteiras
identidade, cultura, leis
sociedades inteiras
doentes
aqui faltam profetas
que falem da terra
da partilha
do amor
da vida
Deus, acho que o limbo
é aqui mesmo
dividindo, os que têm
dos que sentem
que importam os meus pecados
diante de tudo o que te falo
diz-me lá se relatividade
não faz de mim sua santidade?
se não te agrada manipulação
porque me há-he agradar a mim
é isso que fazes não é?
para que haja equilíbrio
és tu o céu e o inferno
é isso que somos
projecção desse espelho
como te disse
eu entendo
por isso, estou em paz
e tu sabes
que são sempre compassos de espera
para outros estados inquietos
não foi também essa inquietude
que te fez regressar?
a morte é demasiado
silenciosa
antes de todas as palavras
estarem cá fora
...
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