ilhéus negligenciados pela degradação do homem
unhas que crescem selvagens enrolando em caracol
a pele que seca como sardinha ao sol, salgadeiras
entorpecidas pela ausência do tempo que não passa
totem de carcaças, frutos caindo à gravidade
silêncios que nascem de madrugada, desertos
que a morte não alcança porque está sozinha
memória de peixe a um destino desaparecido
e caindo de balão, o chão crescendo veloz
o coração que é lenitivo, e a maré encolhe
esse corpo que dorme imóvel paradigma
de um repouso imposto pela chegada à ilha
traficando depois fluídos inquietos de dentro
às pedras aos troncos às grutas aos tombos
e crescendo um abrigo nas amarras o cabelo
lá vem chuva e trovão passando-lhe ao lado
tudo isso é em vão
na impossibilidade o paraíso encantado
de não ser livre por não ser capaz de só
existindo cambaleante à mercê do alheio
tudo isso é em vão
lá o mar engole, carrilhado na angústia
aterra, que a noite acelera o entremeio
escura a lua, tapada da tua veemência
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