domingo, 1 de março de 2015
como se fosse um libelo...
velhos capacetes, bornais, cartucheiras
e muitas balas ainda virgens
estruturas em serpentina para uma armada
agora de museu
género espectáculo pirotécnico
ou vitrine de coleccionador
é essa a nossa melhor juventude!
no lugar de sargentos de campo
somos temporários para qualquer tasco
com a ponta do pé nu, guinchamos
mas de pouco nos vale o vexame
à liturgia selvagem, ser marginal
andando furibundos tudo a eito
absorvemos o choque, tudo ao peito.
em tempo di valsa na picardia falsa
de um andamento que manca
tudo franco mas enfim, pranto.
está o livro ao contrário porra!
são as letras que nos comem a cabeça
são as gemas que nos corroem a casca
e as rédeas que nos ferem a boca
tudo travões a uma vida, que é nossa!
antes da queda de Adão já a cobra lá andava
tudo ideias de merda para nos engolir à terra.
só carregados de paus e bombas de tinta
só carregados de métricas de catanas fulminantes
gritos de pedras, picaretas e sílabas tónicas
atiradas, esborrachadas na cara
de quem não tem vergonha
de nos roubar a infância e a velhice
e o que sobra? o que sobra são bancos de horas
que nunca chegam a ser nossas!
orixás, espíritos defuntos, testemunhas do além
que se juntem, que reclamem também
neste transe de não ter mais o que perder
o cachimbo a fumar é de pólvora
pois que exploda, nunca seca, até ao fim.
Agrilhoai-me! Pois começo a ter visões
Um opúsculo, libelo, manifesto
mais que pede uma reforma geral da humanidade
mais que implora uma língua e uma escrita mágica
um novo opiáceo ou um sol artificial
talvez fosse mais fácil, ou suportável.
Ainda assim, eu prefiro que exploda
e que com ela eu também.
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