sábado, 7 de março de 2015
Notas bravas
da arcada de uma ponte velha
cai um triciclo cujas rodas estavam perras
cai, mas cai sozinho, pontapeado por um pónei
malhado de rosa e azul ponteado por uma estrela
no rabo, cai rogando ao fundo do rio empedrado
que o receba, que o acolha porque nada fora
e agora? tal clepsidra se mede dos segundos
que nos pulmões lhe faltam
-e os dedos se abafam na boca em lágrimas
numa casa de panos, embrulhado, se vela
maniado de uma vida sem eira nem eira
onde ainda secam as sementes ao sol queimado
se estalam da pele o aroma salgado nas mãos
do meu avô.
E a cadela que ladra.
da arcada de uma ponte velha
uma pena pega altura numa lufada de ar
donde se pergunta de que buraco teria caído
esse ser inanimado que a deixou partir
e numa ranchada de outras tantas penas
é a avó que chama para as vindimas
e o pai que ralha pelas saias curtas.
donde tudo isto um adocicar de cristo
porque não se vê o tempo passar
nem tão pouco há tempo de o encontrar.
Morreu tão jovem.
E são agora as tábuas que rangem.
Dos tectos as memórias são frescos apagados.
E ela dança porque o triciclo já não lhe cabe
e o pónei está manco. mas a estrela, é verdade.
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