sábado, 7 de março de 2015

O terceiro dedo



o passo adiado pelo cinismo do livre
quem se amordaça de norte falso, lince
de mil patas que perseguem formigas
completamente alheadas, morte aos pombos
esses profetas porcos são mais que muitos
qué das fontes que escorriam água cristal?
a humanidade virada a roupa ao contrário
tudo abrutalhado no armário dos adiados
há que acertar no alvo, furo e ganho o tacto
qué das forças que alavam essas pernas?
ilusão é tudo o que parece reflexo de céu
conteúdo de frasco de mil células de asno
carrasco fácil numa sociedade de carrossel
andam as fissuras entupidas de alegorias
é a temperatura que nos assa a coragem
de sermos donos dos nossos dias
antes isso, somos qualquer coisa que se vicia
num deixa lá Maria que podia ser tragédia.
e a viragem não pode ser senão a comédia.
naquele tipo de riso que se ironiza
naquele tipo de viagem que se mortaliza
andam as margens a enforcar os idealistas
e o que será das ideias sem cabeças?
parece que corremos atrás do que nos persegue
e tudo o que vemos é do mais breve veneno.
e aconteças o que for, serás apenas um reflexo
de um tenor gago, na rouquidão abafado.
é tudo o que podemos ser?
é tudo o que nos querem ser.
Por amor a Deus, há que rivalizar com o criador!
Há que dizer: vai-te lixar que eu tenho planos
pra depois, pra muitos anos, pra muitos tantos.
E ainda nem estava a falar de amor.








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