segunda-feira, 23 de março de 2015
Esta cidade qué tu
deixo um pedaço em quem levo
essa amante intermitente cidade de gente
eterna que nas tabernas se esganiça
do ponto de vista de quem lá fica
o pregão da pior das vidas
ou porque se descalçada despida de vultos
na mais sombria das madrugadas de velhos
e um género de escritor a cada dois mil anos
adormecendo no panteão dos veteranos.
tresloucada peremptória de pormenor
da grosseria a pronúncia do antigo fado
onde ainda se encontram tímidos
gaiatos apaixonados e corações descalços.
versos que se descolam em aviões de papel
mapeando jardins pátios varandins terraços
candeeiros jornais cigarros e travesseiros
assarapantada de santos padroeiros
e cinquenta idiomas arruaceiros
o caloteiro promete: um sofá à beira Tejo!
e um vestido de veludo para as noites de Inverno
não se julgue no direito de a sentir como minha
quando do topo da colina se chora a saudade
um jaguar deambulando nos campos de romaria
de querer ser travessia e melancolia
de nem saber mais o que querer
porque sou eu que sou dela a poesia...
um pedaço de paisagem, de cromatografia olhar
que se reflecte em lágrimas de um choro seco
que se bebe do mais tristes dos passeios sós.
Cidade que depois de vista e despida
és enfim pequena
e te nasces a cada chegada batina
eu a mim, já me conheci como tua
não tenho nem quero outra beira de lua
outra ponta de vento outra nota de fado
sou mercado e mercadoria, colapso
tudo à beira de uma adiada retina rotina
e só posso dizer que me lamento
se tudo o que digo não se justiça ao pensamento
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