domingo, 1 de março de 2015
O luto que nos levanta
cometas autófagos de garras afiadas
pelo assobio de teclas ocultas, pela calada
material explosivo tomando a sério o plano de estar vivo
que não se entende de língua frouxa, de língua murcha
de língua muda, bifurca, obtusa, obsoleta.
o derrame de vasos clandestinos nessa soberania
de sermos micro nano incontáveis seres anónimos.
arquétipos subterrâneos, agindo de conjecturas aladas
acossados por um qualquer termo livre
aerofone do mais agudo dos gritos de revolta
assimetria dos infernos de gentil-homem.
no oculto dessa cúpula de observação esdrúxula
tudo pode ser o que é e não é, um cão armado
um presente envenenado, uma passagem ao vácuo
no templo dos deuses sentados, uma voz se levanta
-sou um céptico e desconfio de tudo o que é certo!
jogos de combinações, às portas do Esplendor
procurar-se pela diferença, do contra, ao contrário
22 lanças chegarão nesta guerra de esperanças
universos aleatórios chegarão nesse arrumo de carvão.
há todo um saber aristocrático que nos engulha
a ciência proletária distingue-se na folha amarrotada
cada um que invente a sua desculpa mais esfarrapada.
vindo do nada ou Olimpo, é na solidão que vos encontro.
Nessa quimera fusão, nesse total alienar como estar.
que tudo pudesse ser apagado e recomeçar de novo.
Há um poeta em cada um de nós que espreita
que de longe contempla, que o sonha e congemina
e das suas palavras, bem ou mal abocanhadas
exércitos de silêncios por elas hão-de marchar.
Por elas hão-de sangrar. Por elas hão-de atirar.
que o poeta não é senão um encantador, ilusionista
exímio manipulador de carências e vazios com dor.
e em toda a vulgaridade de passear descontraído
pela cidade, pelos pombos e pelo milho,
poder reconhecer os doidos à primeira vista
esses templários do processo da não existência
dessa legião de autobiografia de curto-circuitos
sem coincidência ou condescendência.
22 lanças chegarão para nos levantarmos do chão
e acompanhados na solidão, nos reconheceremos
o santuário é o por do sol ao estuário
no sublime limbo da noite que não é mais dia
seremos hospitalários de uma vingança ímpia
e todas as janelas da encosta fértil se abrirão
e carpetes vermelhas se estenderão, no luto
de um grande poeta, um deus qualquer,
também ele anónimo.
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