quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
Confissão ao Vácuo
a morte chega-nos de mansinho não é?
numa palavra, num gesto, num texto
ela chega discreta
sem darmos por ela, sem crermos...
no momento em que nos atiramos
esse momento é muito anterior,
depois, tudo o que vem é somente dor
daquela que lentamente mata muito
mais do que a própria morte, consome.
Dor daquela que tem o rosto da culpa.
Dor daquela que luta para ser absoluta.
Dor daquela que não tem cura.
Não é como cair da bicicleta
ou como levar uma sova
ou como sentir vergonha.
Dessa dor que passa, a criança ultrapassa.
Passo a passo, o recuo é gravidade.
Que te suga e envolve.
Que te embrulha e devolve, em pedaços.
E a vida não é senão fragmentos
ora de luta ora de desistência
que se somam e multiplicam
de ilusões de seres mais forte.
Mas não o és pois não? No ponto
exacto em que te atiraste
muitos anos passarão para que deixe
de ser afinal um ponto final.
E de interrogação muitos nãos virão.
De talvez, de quem sabe, de ainda posso.
Mas que podes? Se o teu corpo já foi
atirado e o que ficou foi um estilhaço
que nada pode porque em nada inteiro.
É isso não é?
É por isso que não se compreende
que aos outros sejas capaz
do mesmo acto que cometeste.
Mas somos todos fracos não é?
Todos feitos do mesmo barro
e da mesma vontade de encontrar
a felicidade.
A morte tem perdão. Diz que tem.
Diz que tem só porque sim.
Diz que tem só para mim.
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