segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O eu visível (possível)



vamos falar na primeira pessoa, sem pudor
porque se pergunta onde anda o poeta
nesses poemas de dor ou de revolta
ou de idiota presunção ou de vaga flutuação
todos eles serei eu, sabe me mal dizer eu
mas um tu seria um espelho que não satisfeito
nesse imperioso colossal poema de projecção
sentimental simbolica encriptada voz na voz.
E continuando sem falar de nada, enleada
até conjugando feminina me agonia,
mas sim, vamos falar de mim, a poetiza
ou a mulher que escreve poesia ou a pessoa
que é mulher e tudo isso, como não poderia
deixar de ser, no compromisso, de o ser
ainda que apenas neste confessional escrito.
E repare-se que nem mais poema é.
Pois não podia mais ser. Está entretido na fuga,
no esconde esconde da sombra que o acusa.
Será frágil? Será sensível? Será trágica ou triste?
Será que chora e sente? Ou será que tudo isso
não tem qualquer interesse a quem o escreve?
Não, não tem mesmo. Tudo isso importa tanto
como saber a hora, o tamanho, o peso, o nome.
Que importa o grupo sanguíneo quando da mulher
nasce um poeta? Que importa o sangue que lhe corre
na veia se é na linha que ele respira e anseia
e é na noite lírica que vagueia e no dia cavernoso
que odeia, que conspira, que respira e acredita
que só há uma vida para ser vivida
quando desta forma se é concebido.
Não te importe a ti também que a mim,
já há muito que não me convém!

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