terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

um céu imenso



e mesmo os dias que passam sem mim
são apenas dedos dormentes
que pairam na beira da folha nervosa
que se inventa
que se vão levar na boleia as Antilhas
Gritar-se no alto do Olimpo, o bronze
de se sentir busto gravado nas estrelas
chamo ainda o retorno
daqueles que de mim nunca partiram
no cerco de tudo se desvanece
como a chuva que lava a poeira
permanecer dentro de um fusco corpo
ou de uma malha que se escapa
na imperfeição de um poema farpado
o que só existe
tudo nos soletra em riste mas triste
a necessidade da voz de Deus
soprando auras de cinza
para nos lembrar do que é a vida


párias ventos
um fio de esvoaçamento
tudo a arder
-é o nosso dever!
Aquelas chagas de assunção
da labuta da noite
anciões guardiões
do braço da morte

essas gaiolas que nos ensinaram
as asas são apenas vestígios
e toda uma panóplia de utensílios
que nos adoecem os cílios, vão!
os flagelos estão dentro do peito
porque o mundo até pode ser...

um lugar agora imenso
que se abre para lá dos trancos
a charneca das cantadas movediças
em que ousamos albas as garras do fogo
mas...que mais senão o crematório
tudo nos leva daqui, em fúria
numa caldeira de lutas entregues
poemas sem tréguas
é esse o calvário de um capataz
que deixa abandonado o seu tempo
para andar para trás

e ao olhar para dentro
com toda a ternura que encontro
mesmo os dias que passam sem mim
não deixam de ser sempre
um retorno










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