quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

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É isso mesmo que falta
bater com a cabeça no muro
ser odalisca de uma garrafa de whisky
correr a maratona descalça
lambendo o chão do planetário
ser apartidário desse voto de glória
animal lagarto forrado de veludo
cantoneiro de cimento, acientífico
cruzamento de deus com foguete
um paquete afundando nas mãos
congestionamento de cadillacs
levantamento de tendas gypsy
falta afinal sermos maus.

É isso mesmo que falta
raspar as unhas da orca
esbanjar em diamantes de quartzo
jogar na lotaria do século passado
sermos vitória de meta nenhuma
caso de incesto sem sexo
envolvimento de múmia sem corpo
polvo de tentáculos de vento
porque ninguém saberá o teu nome
no outro lado, no final prometido
do contorno da esquina direita
da rajada da janela fechada
do cacho de casta bastarda.

É isso mesmo não falha
a espelunca pulguenta esgotada
cabeça embriagada de água de colónia
mastigar-se a côdea sem placa
um gafanhoto de gramofone leão
apontando um cigano ao palácio
hidrólogos no deserto do Atacama
e móveis para decorar a campa
ferramentas para pregar a cruz
bússolas, estetoscópios, lupas
para ver a alma de uma tábua
e o coração de uma alforreca
escamando a pele da cobra de rabo na boca.

É isso mesmo que falta?
Falta sorte, é o que falta.








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