quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Poeta convidado deste Blog hoje Vasco Macedo




XVI

À luz de imensos focos de vermelho fúnebre eu sento-me uivo escrevo A imagem da criança esventrada pelo insaciável bico O delírio da mitologia cosmopolitana a assegurar as suas camas As torres com imensos olhos em chama por vida Tantas enormidades estrangeiras aos calos das nossas mãos
Passo na rua levantando a saia para mostrar a minha cona Para habitar o regozijo geral machista do tempo Infiltro-me no vácuo dos demais usantes de chapéus Canto os nós das forcas sobre as palavras Imensas boias de sangue pulverizando reflexos rio pantanoso onde concentro os meus dentes nos peixes mortos
Sou tão imensamente ávido e carnívoro Que renasco em pedestais dourados em cidade santa Em mosaicos a conhecerem o sol às chapadas na cara Imensa turbe branquílinea e sã da sua meditação Que a poesia seria despojada de sentido linguístico Para ser apenas os dentes gementes ao trago
Ah mas tanto bulício infame e seguidista Que tem os quatros charros aos quais à luz me sento e escrevo Uma febre totalmente composta para lambermos as beiças Porque é a amargura constrita por uma trela curta Onde largamos em versos para o gáudio salvífico Da corrida de galgos de quem fez todas as apostas
Derretemos em mais uma gota de cera Subitamente tudo ganha em cor de tudo Onde tudo é verosímel e policromático
Iluminamos a sombra



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