segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Curso D´água



Deitou a mão ao rio.
E com um baloiçar dos dedos,
orbitas e pequeníssimas ondas nasceram,
turvando o rosto que refletia,
ainda demasiado jovem para saber nadar.
O cálice do botão seco,
jardins de hibiscus, labiríntico recanto
do folho do vestido, entorpecido migrar.
E dançou. Em vez de gritar, cedeu
deixou-se embalar com Zeus
e uma pedra depositando no profundo
manto, apenas o corpo pedindo descanso.
E dos seus frágeis dedos, coxas, queixo
moluscos cristalinos e conchas.
-Sou parte de tudo e tudo parte de mim.

Do silêncio baleias se entoam
do mais grosseiro dos sonares
um submarino rasga o ventre
pulsos e ecos de gente-radar

porque sem estar é demasiado
porque mesmo sem estar, é pesado

e se propagam a metros de distância
pedidos de auxílio, ondas titânicas

Mas o rio termina sempre em oceano.
É qualquer corpo de água fluente
regato, ribeiro, fluxo...cursos.
E a foz não é mais que a chegada.
As águas seguem o seu declive,
temperadas, serenas, conscientes.
De montante para jusante,
encarrilhadas por duas margens.
E é no leito do rio
que o seu corpo se encosta e corre
tudo para no estuário enfim se abrir
delta fértil a florir.








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