quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Diário de um bêbado lúcido



Uma memória muito conveniente que escolhe,
sofro de amnésia em consequência de um ataque
aéreo. E em relação ao assassinato, estou certo
de que alguém me matou por dentro.
Oh Chamem-me um detective, chamem-me!
Na noite anterior sonhei com o rosto do Senhor
tinha qualquer coisa de sereno e ao mesmo tempo
inquisidor. Olhava-me como quem se mira
de vergonha ou sátira. Sorri-lhe onírico bêbado,
como podia não rir se o criador nem bem ele
consegue decidir? Venci, nesse jogo de risco
onde apostei que estaria vivo. Até aqui, confirmo.
É um género de estar que se regista ao acordar.
Uma lente grosseira que por instantes turva
onde se aprecia o fantástico, o milagre da vida.
Sim é a ironia que me fala pela boca, ventríloca.
É absolutamente real. Como lavar os dentes
fazer torradas, fumar cigarros, e procurar culpas.
Fiz esta declaração de livre vontade. Sou inocente.
Não fazia a mínima ideia que seria apenas mobília
mesa, cadeira, candeeiro, colcha, garfo, homem.
Tudo no mesmo registo de brincadeira logística.
Ah grandes senhores dos estrados da basílica!
Tenho a maior arma de todos os tempos dentro
da cabeça, ela, a conveniente amnésia aérea!
Por isso, saio para a rua, todos os dias, bebendo
um pouco de tudo o que já está morto por dentro.







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