segunda-feira, 27 de abril de 2015
vidas gerais
e as mãos suam contra o plástico negro
onde de vez em quando se carrega um igual
lágrimas enclausuradas em bolas de cristal
garotos disparando pistolas de água ardente
na lancheira migalhas de dias grandes demais
estará para chegar o exame microscópico
craniotomia na protuberância
do que não mata engorda
mas de que podem eles engordar?
e terminando assim a vaga de labuta
nas minas de pedras gerais
tudo o que urge
é a chegada de um sono sem dor
de se poder riscar um fósforo
para que no céu se encontrem estrelas
e crianças que ainda sonham
e marcham oh se marcham
nos arreios do tempo alheio
marcham num instante homens
e porque as minas fecharam
hoje marcham pelo governo
e as mãos embrulham o plástico negro
onde todas as vidas não se precisam
de adivinhas em bolas de cristal
só a água ardente
continua disparando igual
somos um
apanhados nas pregas da estrutura
estafados que nem um cavalo
da fúria de um lançador de râguebi
ser ainda mula voadora
e do tecido cicatricial fazer a ligadura
a postura tão erecta como um poste
se esteja a curar à beira-mar
de arranhões como identificação
a tudo o que teve de deixar
e o iodo como desinfectante
ronronares sonares como calmante
do rosto encarquilhado sem expressão
de se fazer do roubo uma necessidade
com uma espécie de orgulho e vaidade
da mais interrogada das rugas
capaz agora de se embriagar com pouco
e de uma alegria sublime a braços
atirar borda fora a fotografia de passe
e todos os números de variedades
que nos antes matavam
com ordem de matar devagar
e algo arredondado nesse amor afirmativo
nesse amor à terra infinito
e da surdina de um último espasmo
ainda húmida de lágrimas
o extraordinário, é
e para quê traduzir por mais palavras?
o desafio está para além
de se lançar de braços soltos
no espanto de se sentir completo
sexta-feira, 24 de abril de 2015
só imperfeito
e se ostenta um só imperfeito
o rapaz dos quarteirões da distância
de todos os dias o mesmo
espalhando sobre a almofada o pensamento
que ainda lá dentro em bruto
era uma fábrica de cerâmica ardida
pedaços que agora lhe erguem paredes
de um fogão a esperança
e o pão que nunca há-de chegar
onde estão os fantasmas que ficaram
de chegar para jantar?
o poder de lançar no futuro
murmúrios de infância
e com a cabeça coberta pelo lençol
a honra dos samurais
no segredo da urina e dos medos
há tanta coisa que desconhecemos
nessa cabaça donde nos forjaram
somos a paixão dos coiotes que choram
pelos tectos cinza dos nossos rolamentos
e do que ainda está por vir
com um elástico na jugular
a esquadrilhar o coração de vontade
de bater mais e mais verdade
na fadiga da espera mais longa
ai se pudesse voltar atrás
esse cordão umbigo seria o atilho
no revelar do negativo
na cicatriz irregular de um primeiro amor
do espírito humano e compatível
mas nenhum deus sob tutela
nesta brinca o rapaz está de ingénuo
porque quando se nasce
deixa-se lá dentro a alma
dentro da mãe ventre
esse desejo infinito ardente
de se encontrar nela
é uma questão de estar a olhar
a magnífica linha que sustém a respiração
no esplendor das silhuetas nítidas ainda
porque o dia ao lusco fusco se vai
de planos achatados que se alongam nos telhados
onde ainda um gato mia
rectângulos imperfeitos descrevem o céu
aguçados como aguarela de agulha
o picotado na esponja
minaretes de branco captura
talvez uma galáxia mais próxima
e adiante incandescências começando a exibição
lamela após lamela
só de olhar para o sol que se deita
nos deixa um nó na garganta
mais um dia que nos afasta do início
raros e preciosos meios que perdemos
que fitamos com admiração no adeus
retendo-se a respiração na magnífica linha
e nós, afinal, ainda silhuetas nítidas
retendo-se a respiração
por detrás dos edifícios que estão
a cidade que nos serve de papel de parede
e esta obra imaginária
e em geometria universal
as águas já escuras sem sóis
de um brilho quase humano
do despertador que enfim nos toca
no rasgante passar de um peixe
ainda às apalpadelas sobre o coração da terra
e de repente é noite
sem darmos por ela
o céu agora um relicário rosário
mergulhado no silêncio que trago
onde murmúrios instantes astrais
de um guarda jóias duro
reparo
no topo iluminado um pedaço que falta
do restauro dos sonhos
tudo podia ser diamantes
e nós sempre em bruto
ao querermos trepar por Babel
sem pára raios
as nuvens que escondem as estrelas
podiam ser de confiança mas não
por elas, curvas voluptuosas
de mortes femininas
a cada nova badalada homicída
e há um fosso céu que gira
um automático respirador
que nos ensina
um mapa de zelador
no ritual de se ser colector das horas
que os outros entregam à cama
no rigor mortis do dormir acordado
é uma questão de estar a olhar
para o nosso passado
como se o tivéssemos acabado
de começar
Chove a cântaros
Starting MS-DOS.
C:\>_ edit Chove a cântaros.bat
um guarda-chuva no empedrado
de saltos altos a cantar de galo
passos contra a barra
fulminantemente cinza bela,
ombreia o presente à espreita
de magicarmos ponteiros invertidos
de sermos traços da lei seca
rendez-vous
e um cordel virado para ontem
por uma vida de verdade!
especialmente as coisas íntimas
se nos engolem de um só nó
encurralado no xadrez do canto
um garoto diferente
e seis janelas dão para a praça
onde barcos venezianos
se arrastam ao motor
no pregão de uma nota universal
inda os olhos se fecham
sob arrumação de cebolas no tecto
das vigas da estação
uma estrutura que fuma o último cigarro
antes da partida
uma brecha contempla a escuridão
lábios e olhos para dentro
e de bicicleta sob o espelho da ria
a ruga de uma velha em contra regra
no tempo crónico de um outro mundo
talvez num outro mundo seja crónico
e no céu se descrevem cabos eléctricos
os deuses devem estar frenéticos
Alt F Save
cluedo
o sorriso dilatou-se
de trapaças horas de espera
como se o restante se cativasse inexpressivo
e dos olhos abrindo uma névoa ambulância
as moscas zumbiram furiosas
tal lanterna no fundo do perímetro
onde jaz uma nesga de infortúnio
tal letreiro sujo: ditos cujos
e um banco feito de tripas
onde o velho se aquieta sincero
de tudo ser já despedidas.
Melhor que apanhado às escondidas
no bar das esquinas murchas
chamando por alguém que fale a sua língua´
do arquivo metálico da vida corpulenta
que não cabe mais em qualquer gaveta
Tens no colarinho o esfaquear
martelado de uma máquina de escrever
à beira da cadeira piadas obscuras
que enchem o cachimbo de dedos grossos
e chicotes no lugar de células
a uma velocidade de crente
és tu agora um homem sem pressas
onde as horas são tochas
que mergulham em águas densas
E toda as fibras do corpo sobre rodas
se vibram de indignação sem símbolos
somos discurso compacto
repleto de animais à solta
armas de calibre 45
enfim ladrões de meio calibre
úlceras para panaceias
de palito no canto da boca.
há de ser necessário um par de pernas rijas
e uma dose extra de teimosia
pistas mecânicas para detectives sem crime
Golpes de mestre
esses punks que andam por aí
o raio do miúdo atingido
as sobrancelhas que nos metem em sarilhos
o cheiro das couves e dos pobres
o cheiro de todas as coisas vitais
do suor dos cozinhados dos cigarros
do mais comum dos mortais
Embebidas as tábuas do chão
sob as lâmpadas cruas do último patamar
donde o calor tórrido do luar
não nos deixa mais sonhar.
E sacudir um fósforo apagar
do último sopro do mutante
as narinas de um morto
no fedor frágil e cristalino das estrelas
acabadas de nascer dos buracos
É fedor da vida.
o aroma das latas de lixo
das cartas acumuladas no correio
a mistura putrefacta dos colchões de palha
garrafas de leite azedado em melancolia
e uma licença de porte de feio.
Valha-nos Deus.
Os olhos inchados de insónia
os sovacos de carrapatos colados
e as unhas dos pés enrolando caracol
que Diabo!
Essa posse que nos come de fome
brilham os pratos de ausência
e os copos arejam a sede imensa
E o joalheiro a fazer entregas de madrugada
entregas de fatias de cinema
e romances de lenço encharcado
de perfumes caros
Oh estranho pugilista o ser ponto de vista
de paredes espancadas de eufemismo
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Dito de partes
por vezes as lágrimas explodem-me dos olhos
o medo invade-me toda a carne que não o contém
na loucura de uma esquizofrenia que não entendo
da sensibilidade trevas espinham-me o espírito
já não é a melancolia, não sei mais o que é
são as lágrimas escorrendo sem margens
entrando-me na boca a salina da escuridão
carrengando-me no dorso a curva vil de fins
que parecem estar sempre próximos de mim
por vezes os ossos da bacia se me desarticulam
e eu não sei mais se caminho a direito se me penduro
do mais perigoso dos parapeitos, do mais doloroso
dos ventres donde nasço e renasço assim,
sem mãe, sem pai, sem raiz, sem nome, sem terra.
e de todos os males o pior é mesmo este caos
donde não me entendo se estou aqui ou estive
a todo o momento como se partisse
como se o vento me esculpisse de dúvidas
e as perguntas me fermentassem de esterilidade
por vezes os meus dedos querem bater-se sozinhos
uns contra os outros se enfornando de linhas
onde o poema me espelha como a mais triste
das perdidas almas que se anda por aí alienada
que se quer dessa forma e não outra, atarantada
que se envolve e de toxinas se implode
e de todas as formas só me ocorre uma morte
mas nem essa me conhece as formas do choro
não choro por ela porque me não consigo partir
não posso morrer enquanto me sentir partir
assim em tantas, tantas de mim que se colidem
que se anulam sem me deixarem morrer
E o que fica por aqui não é de fácil descrição
do lado de fora mais parece um borrão
e tudo o que quero é um mata borrão
mas a tinta parece que quanto mais pinga
mais em tudo expansão
por vezes os olhos pingam-me da morte
e eu quero regressar a casa e não descortino o norte
mas escrevo, escrevo e isso passa
passa para as linhas de uma carcaça
de um poema que em mim me ultrapassa
e eu consigo enfim a distância e contemplo
a paz dessa última morada
ser dada
a parte que cai, é nua
do fender do flash
o olhar de coisa nenhuma
Ali Babá B Abá Há
make a wish
cadê a chave?
da alma mais jovem
por onde correm
lábios de platina
e chovem promessas
manga template
da segunda liga liguei-te
indústria de precisão
dessa biblioteca virtual
somos um cluster
carioca, de warm up fácil
aspirina atómica
da ciência estrutural da morte
tutorial para o tempo que falta
centrais de controlo e suplementos
do brilho redutor do ter que estar
por favor!
que os classificados sejam de graça
e projectos tipidificados de exclusão social
o guia do utilizador em branco
tudo um café contrato
e força aérea para jejum atmosfera
relógios de água em tempo de seca
ser laboratório de ordem terrorífica
D'barriga centro pé pré e pós fica
o parto da morte de oiro
o tempo das imagens borrão
sonhos tipo D
D'magia ser coisas de não pertencer
de enchimento anti artificial
random mobilidade total
porque a parte que cai é sempre
D'espida: aquela que espia a ida
Não tenhas medo
não há segredo
o fender, a fenda
faz parte do desejo
de ser todas as partes
e nunca um todo que a prenda
a fenda
é o teu melhor abismo
D'abismo da ismo
dá daísmo
é apenas uma ideia do fenómeno
de ser contra ser ideia de qualquer
fenómeno
por isso,
o abismo é o teu melhor amigo
e a parte que cai, é e será em parte tua
mesmo não sendo tu coisa afinal nenhuma
muladhara
gigantes extintos do arrasto
entram a dentro no mato
loxodonta africana
assustados
dos homens e das lanças
predadores
a morte precoce na queda dos molares
presas de marfim de testosterona
transporte, entretenimento, guerra
a mão que os mata antes
antes dos brasões, Babar
para na savana doméstica
a parede enfeitar
tal qual ícones que se demoram na fama
efémera
a pobreza humana
é que não
animal cósmico
4 pilares de uma esfera impiedosa
a reencarnação talvez numa abelha
numa mosca ou numa pessoa
sabias que os primeiros tinham asas
e brincavam com as nuvens?
Ganesha
da persistência, da força, do conhecimento
da superação, equilíbrio e das letras
diz que o universo repousa-lhe nas costas
mas de tudo isto o que mais me toca
é o choro pelos que partem
sabias que eles choram os que partem?
eu também não
um sapato expandido
caminhando por uma plateia vazia
ao fundo na cortina que se rasga
uma criança tão alva e olhos vidrados
e um tiro no meio da alma.
os aplausos foram furtados
pelos delicados passos da cinderela
-i see u in my dreams, descalça
onde a paz é a sesta
das horas que habitam a terra
e se deambulam de cansaço
nas vestes magras do luto
por um marido partido
ou um filho não vindo
ou um animal ferido
ou um astro caído
um céu que nos gasta
como algodão
que ao invés de ser doce
nos mata
talvez nem seja um céu
talvez não seja mais um céu
do que vejo não sei
e dos meus olhos para ver
tão pouco
-i see u in my dreams, descalça
todo esse palco por onde caminhas
descalça
a vida de tão pouco alva
dando tiros aos tiros te tiro
de todo esse cenário
para meus braços seres a peça inteira
e meus braços mais, a plateia
e toda a cortina aberta enfim para a vida
cheia e plena de ti
sexta-feira, 17 de abril de 2015
ceder como se fosses partir
o calvário
dos canhões transeuntes
de uma alma babuína
de macrofórmulas de bandeja
macrocéfalos de trágicos findos
que sabe deus quem
E correr água abaixo maratona
todas as fontes que secam de ti
alienado monstro tribalístico
de todas as baleias em guerra
o esqueleto da referência bíblica
da pérola regada de seiva amarga
por mitos e dígitos gravitados
da aniquiladora força que nos repousa
o renunciar.
o zoneamento de um bulldozer
na quebra-luz de um mapa astral
a minha terra natal foi esquecida
seriamente desfigurada e agregada
a uma outra qualquer
e no pós guerra da alma
que a estéril há-de vir
a exímia performance da sombra
no emigrar para um novo mundo
no vício da gravidez biográfica.
São os maneirismos da vertigem
de uma viagem terminal antes do tempo
inefavelmente exasperada e sedutora
no suspiro que conecta o ritmo cardíaco
tudo se cortina de uma forma pesada
e se esmaga numa besta certeira
o vigilante que ignora o tremer das teias
que se deixa nas costas de uma espreguiçadeira
esse solitário grande demais
esse ódio mortal a génesis
torcendo os dedos flexíveis demais
demais
para sermos nós dois para depois.
Na hora, uma qualquer
Na hora de fechares os olhos
tudo o que fica por aqui...
da algibeira o imaginário
peninsular pela ausência
nessa colectânea de se perder
o geógrafo do campo de batalha
que é esse corpo que fica anónimo
num qualquer outro outono próximo
e o espírito se recomeça do verde eriçado
do contraforte de tal garganta
que novamente o cospe natural da sombra
o espírito começa num cavalo que relincha
a um viandante de lugar mais longe
que se esparsa na mais brancura
rompendo da lágrima orvalhosa
uma rota de línguas e homens.
E ter a pele preparada para a rédea
da terra que nos acolhe selvagem
dos pés à cabeça - Apeei-me.
Mergulhando as mãos na fonte
do sotaque hospitaleiro do oriente
ignorando a inclinação do vale
alguém que o leva no alforge do guia.
É o fio condutor
desse amor contrabandista
eis tudo o que nos falta
um magro galo de fricassé
e um par de andas de pé
Do tecto inóspito do ozono
anjos caem, diabos me levem
nas esporas que untam o tempo
o curtume de um diamante fôlego
de sermos só pontas sem nó
o petiz do real
de se aceitarem as horas
e em mouriscas metáforas
sermos aias da perdição.
-quem ousas roubar-me a vida?
a sina do café fendida
de um ditado mocho
o gato que espreita o pardal
romani em fúria
caindo da boca a flor da Acácia mais pura
-apertou-me a gravidade em vão
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Antes que nos doa
São tentativas do militar domado dor
um cidadão pacífico passando em redor
que se jogando de bruços
do murete de mármore que antes o sutiã
agora voa em pedaços da manhã
e a voz do locutor se cala
as balas miam ao bater do roçar da sua saia
ricocheteando sabe Deus por onde
o romance policial
onde estalam rajadas de mistérios
e pneus derrapantes alti-falantes.
retesando os músculos
da lâmpada de néon rosada a língua
limpando a poeira do arranhão que sangra
sirenes e fuzilarias de corridas de galgos
metralhados a medir fasquias
-a fé era muita!
de ruas demasiado estreitas para tanta pandora
entesicada
e estilhaços de vidro caindo como chuva
retesando os músculos uma outra vez
os galgos andam malucos
e as pandoras só fazem barulho
Todos os dias te encontro meu amor
pneumático
e sopra-me, ora sopra
anda ver se tenho fugas e reumático
Levo-te enfim
duas potências lutam
a covinha na bochecha e o enfeite
e do pulso prateado
os lábios sobre a dentadura
eis o assunto demográfico
quando a minha pele toca na tua
na subtileza de um quebra-cabeças
o cravo branco na lapela
outorgado pela natureza
e ainda um maço de cigarros para a moleza.
e da poltrona murmurou:
-dá-me uma chance de fechar a porta à chave
na armadilha quase óbvia o microfilme
entrecortado em filtros de espelhos
os músculos dos antebraços
na hora da aterrissagem
rabiscando contabilidades
e combustível no reservatório
de tudo previsões optimistas
e cartuchos novos.
e no jornal vespertino
um destino quase nosso
caduco de coisa alguma
arraigado a tiracolo
enquanto na boca
o açucareiro deixado entornado
fugando os últimos beijos da manhã.
E por último,
a desviar figuras
o montar do quebra-cabeças:
-guardo no cimo do monte o último dos horizontes.
domingo, 12 de abril de 2015
Tenho no ventre Poesis
nesses socalcos cobertos de arbustos
há um jardim hospedaria mortuária
órfãs almas oprimidas
nessa chaise-longue involuntária.
e são entes saudosos de vida
de partida demasiado aurora
deixando tempo não soprado
no âmago do sol que continua nascente.
e o coveiro de dedos enferrujados
ondeia a terra de palpitações vizinhas
toda a claridade é manchada pela sombra
sádica e lustrosa, no linguajar reminiscências
de despedidas
- quem compôs a frase?
na fúria dos diabos, os vocábulos são ilhéus
memento mori
enfeitiçado pelo dragão onde poisa o arco-íris
a combinação da melancolia violentamente macabra
tudo mobilado de grades nos calmos confins do mundo
auscultando na pá à direita do senhor
a moda da terra de lhe vestir sem cor
Amanhã serás verde-erva e amores perfeitos
serás a entrega do fogo em mãos
e estimarás a pomba
e de que adianta chamar pelo teu nome no nevoeiro?
das cinzas os corpos esculpir
na cegueira de uma vida que espreita
pelo monóculo nascimento do azul
sábado, 11 de abril de 2015
rotação zumbi
e em tudo petulante esse céu que te roubou
hoje na ingratidão de tantas vezes ter soletrado
o teu nome em vão
não é mais fértil este chão
da tua ausência a aridez
e narrar erudito um realismo ingénuo
das coisas exteriores que os homens temem
todo um daltonismo e o horizonte é fixo
mas tudo equivale a estar ausente
para ser capaz de mentir que o céu é mais azul
e os verdes dos rios reflectindo verdes mais verdes
e tudo ser capaz de confundir e misturar
sempre no intuito
de teu nome nunca esquecer.
mas são pântanos
a aparição do espírito em castanhos lamacentos
donde brota mundo nenhum
e o conceito babilónico é em vão
onde a areias são vermelhas e sangram
melancólicas propriedades odeio-metafísicas
Tudo pode ser deixado ao acaso
como se estivesse até parado
que é isso da rotação da terra quando a cabeça
é meditação
a rota matemática das almas
das chamadas de astronomia vivente
das tabelas dos sonhos e das velocidades dos olhos
tudo viragem de dentro para fora.
de dentro. Que o centro há-de ser sempre por dentro.
noites sem mim
são variações da anca
rosáceas tímidas que se roçam
esse calor de marginal madrugada
as estrelas que das paredes falam
e nós, uns entre outros, estrangeiros
crucifixos bandarilheiros
são as arenas que nos apertam o peito
e nos detalhes, o demo, em cócegas
sonolento. em assoalhadas de terrenos
e horas mortas. e soletrantes as gírias
de sítio algum
numa espécie de assobio
ou numa orquestra de rastilho
íntimos momentos alinhados em silencio
quando os nossos olhos se cruzam
de códigos reconfortantes.
e tudo em volta continua
a bola de espelhos engolindo rostos
de gente retardatária no quilómetro do tempo
interrompido
e por detrás do balcão
um velho trôpego
que pressente nos gestos o fim de tudo
mas no peito desembarca sempre
o desabafo da euforia do volfrâmio
-tanta fome de chegar ao fundo!
E galhofante o copo viaja
assaltando a paliçada de um coração em argamassa
para se sentir vida ser generoso e próximo
talvez se invente um melodrama
tornando mais suportável a ida para a cama
segunda-feira, 6 de abril de 2015
o choro das varinas
a dor que puxa o anzol
deslumbra-se de tudo o que é sol
a atracção da vida e sacrifício
nessa hesitação de se chegar à superfície
e em conversas mudas com a mente
vai-se vaidoso e ardente
esse peixe preso na rede
e de galanteios seduzir a orla
para que o deixe precisamente
aos pés de umas sete saias
E vai vaidoso e contente
o peixe embalado no ventre
despedindo-se do profundo e escuro
mar de gente
vai ser longo o tempo de espera
em salmoura e aguarela
e devaneios para o caminho
enquanto chora a varina
pelo seu tempo de menina perdido.
E o choro termina junto à cova
de um dente de leite
e o orgulho lhe toma a guelra
de ser enfim só um peixe
Oh mar, tudo há-de ir e voltar
de que nos vale chorar
se o choro a ti nunca há-de chegar
Mix Morrison
rasga, rompe, a corneta do estrondo de dentro
uma selva de arabescos sonetos aleatórios
se aventa da boca para fora, vai, corre
existe com essa forma de sono profundo
que nunca dorme,
norte, sul, este, deste, das cinco pontas
de lés a leste, expande, sangue e noite
essa poesia de morte e alma viva
pray my little sweet shit frágil
men of lábil instável mente the one eye lente
why does my mind circles around?
i still facing the empty shining of nothing
mim, limbos de mim enfim
and lord, my soul is sick
my voice is silence
oh i see the sea of cold waters, of short matters
of who cares, oh the time as come
in the streets of sadness madness
fire and desire, fuck and suck and push
the last button to heaven
and you will be the last angel
o último poeta vivo
o último poema que sangra
que levanta a âncora das campas do ócio
do cio do rio que não adormece e nas margens
não se perde, não apodrece, não disforme.
não diz não à falta dessa fome de tudo em falta
my name is the second king lizard
and yes..."we can plan a murder or start a religion"
É teu
o meu coração anda acelerado
de caça ao elefante e exótico
tenho pimenta nos olhos
só pode! porque choro à toa
visualmente uma pulseira
que o há-de levar para longe
a tiro rasante no limiar semblante
de um querubim sem nome
mas tudo é catalisador
para sentir mais e melhor
andando numa roda-viva
numa tónica que sorri de tonta
de empurrar tudo em frente
que para trás não fica nada.
o meu coração é máquina
fotográfica de alma que se deixa
despida aos pés de um enxada
que a revolve e remexe
para ser semente e mansão
onde cresce todo um novo tecto
de comunhão expansão.
o meu coração é possível que seja
absoluto conceito de mentira
é possível que seja uma verdade
absoluta
é teimoso e intenso
não conhece senão paixão
daquela que dá desespero
não carece senão do mesmo
que como ele, seja cego.
e é um génio e é um tonto
e dá de mão aberta o todo
e espera o encontro, louco
porque só assim...
é um coração sincero.
o meu coração é o meu
não podia ser de outro
é o motor que bomba a vida
nos veios mortos do amor.
O meu coração é um poeta.
E o poema é a dor que lhe corre na veia.
Dessa dor que dá gosto de doer.
Dessa doer que nos faz sentir
que há ainda um coração a bater.
Choradinho de Páscoa
Há, agnóstico um
tirando a samarra lhe rezam
mansas crenças de jejum
no calendário, diz que hoje, é Páscoa.
mas as penitências estão à sesta
de um enorme chaparro de esperas.
queremos ovos Kinder ou Tugas?
daqueles sem surpresa
ou a surpresa é sempre a mesma?
me recordo de pintar ovos com tintas
com jeito para não se quebrar a casca
comia-se o borrego no campo
e brincava-se às petancas.
Mas hoje...o folar vem sem ovo.
e o borrego vem da Holanda
e ainda diz o papa que é preciso é
esperança!
Ainda me hão-de faltar os dentes
e ando eu a pedir amêndoas
para pagar as minhas contas!
Mas os pais não duram para sempre
e os Ais não nos servem de consolo.
Cristo, vê lá se dás um jeito no globo!
Eu até acredito que não deve ter sido fácil
terem-te dado como morto
para te prestarem homenagem.
66,5
um velho tambor em chamas
as sombras dos muros de berlim
pelas portas da miséria atravessar
um portal de gritos extensos
do pranto que se junta ao ébrio
erguendo-se do chão vultos familiares
o lúgubre piar da noite sinistra
tudo navegável pelo lado de fora,
olhos de coruja agora abertos
tacteando o sinal da cruz
de deixar inerte o sono-luz
e se amanhece macilento no regaço
preenchendo as lacunas de pedra
de atalaia ao sol que se levanta
soldados do infinito sangue que os une.
das paredes ásperas a liberdade
apenas um sótão em céu aberto
onde antes eram cortinas de ferro.
dentes de lobo, lentes de míope
a viga mestre que irrompe pelos polegares
dos subúrbios da saudade.
em voo encarpado se lê de semi breves
como se fossem hoje...papel de parede.
A memória afinal
uma bailarina de biqueiras de aço.
domingo, 5 de abril de 2015
O mistério das bermudas
a ilha do tesouro é um poema de vida
imaginar um banco de avioneta
na euforia fora de época festiva
sobrevoando ilhas plutónicas
na solidão das armas que descansam.
um poema que nos fala sem palavras.
que apenas transpira a uma temperatura
de suavidade e candura, na cabeceira
de uma cama adormecida na planura.
e homenagem a dotes visionários
os olhos cerrados em sonhos de Verne,
sempre a tortura de uma ausência
que a força aérea se impõe.
nada será ocultado quando se anda
em reacção ao acordado.
tudo visto e ponderado do cimo
dessa avioneta que nos espia de mimo.
Indo e vindo. o tempo de carência
no ritual de embarque, a ousadia
de sermos feitos da mais breve orla
sempre se cortando o mar da terra.
e nunca se encontra o que se quer
mas se insiste. e se resiste. na força
de uma pirueta acrobática bubónica
na ficção desta vida e não outra.
X libris.
a ilha do tesouro sempre lá esteve
vagueando pelos esboços da alma
marchando no alinhamento
a indiferença
que nos leva a passar sem vê-la
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Fanatismo
tenho um vaso para a tua flor de mágoa
ando a ver se o rego com carisma sem tecto
ai se o mar fosse língua, o teu sal curaria
todo o mal que me afoga ao longe da vista
e depois para depois tu serias semi mente
numa caixa virtual teclada e universal
dar-te-ia um invólucro uma coluna e um rosto
para habitares do lado oposto do mais comum
do mortal.
ai se esse amor fosse uma só raiz
e por esse céu se levassem infernos
tu disseste que me buscarias até ao fim
mas enfim...dantes, as flores duravam dias
e nem precisavam de borrifos de lembrança
ou carícias nutritivas...eram promessas-vivas
ouvi o teu suspiro ao longe
por entre os cacos de um tempo partido
andam as pétalas ao sol de inverno secando
e os aromas se misturando de artificiais outras
e que posso? tenho um vaso e uma ideia
mas nunca fui grande jardineira
Que somos
Que
é fita magnética de puro instinto
de códigos fluídos de placas de zinco
anda o espírito de passeio por um fio
porque as nuvens se carregam de aflitos
não há talismã, o reflexo é convexo
são egos de vidro e fracção de segundo
há um eixo por onde escrevo mais fundo
que guardo na algibeira de trocos
um realismo de cães leigos geométricos.
uma espécie de calma vigilância-raiz
em palpitações de breves cimentos-giz
a exactidão em simulacros e exaustos
e da luz volante sermos apenas chegado.
votos de uma autópsia bem sucedida
para te medirem a alma através da folha
paranoico-lírica enfadada de vida
andam os farolins embaciados
perder-se assim entre duas campas
de seguir à risca os pingos da chuvada
e chegar à cidade solitária sem nada
de entre os vivos deixar ser assassino
o paradoxo que nos cai sobre os ombros
de tudo querer ser refundido limbo
no reino da animação ser estátua
mágoas de verga que não se vergam
para relógios de sol à sombra
já nem os bichos me assistem
dos tectos os trapézios só assustam
camadas de flanela e penas de ganso
para um sono digital sem descanso
e ser chocalho da cabeça frangalho
chocalho repito como badalo de sede
bater com os cornos na rede
tantas são as as vezes que se perde
o norte num céu que nada nos acolhe
mas há um lugar onde é mais forte
onde os sinos batem pelos vivos
onde os fados se dançam de pontas
e os beijos se roubam às portas
e eu não sei do nome desse País
donde me dizem que se pode ser feliz
donde me escrevo eu, cartas de adeus
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