segunda-feira, 20 de abril de 2015
Dito de partes
por vezes as lágrimas explodem-me dos olhos
o medo invade-me toda a carne que não o contém
na loucura de uma esquizofrenia que não entendo
da sensibilidade trevas espinham-me o espírito
já não é a melancolia, não sei mais o que é
são as lágrimas escorrendo sem margens
entrando-me na boca a salina da escuridão
carrengando-me no dorso a curva vil de fins
que parecem estar sempre próximos de mim
por vezes os ossos da bacia se me desarticulam
e eu não sei mais se caminho a direito se me penduro
do mais perigoso dos parapeitos, do mais doloroso
dos ventres donde nasço e renasço assim,
sem mãe, sem pai, sem raiz, sem nome, sem terra.
e de todos os males o pior é mesmo este caos
donde não me entendo se estou aqui ou estive
a todo o momento como se partisse
como se o vento me esculpisse de dúvidas
e as perguntas me fermentassem de esterilidade
por vezes os meus dedos querem bater-se sozinhos
uns contra os outros se enfornando de linhas
onde o poema me espelha como a mais triste
das perdidas almas que se anda por aí alienada
que se quer dessa forma e não outra, atarantada
que se envolve e de toxinas se implode
e de todas as formas só me ocorre uma morte
mas nem essa me conhece as formas do choro
não choro por ela porque me não consigo partir
não posso morrer enquanto me sentir partir
assim em tantas, tantas de mim que se colidem
que se anulam sem me deixarem morrer
E o que fica por aqui não é de fácil descrição
do lado de fora mais parece um borrão
e tudo o que quero é um mata borrão
mas a tinta parece que quanto mais pinga
mais em tudo expansão
por vezes os olhos pingam-me da morte
e eu quero regressar a casa e não descortino o norte
mas escrevo, escrevo e isso passa
passa para as linhas de uma carcaça
de um poema que em mim me ultrapassa
e eu consigo enfim a distância e contemplo
a paz dessa última morada
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