sexta-feira, 24 de abril de 2015

Golpes de mestre



esses punks que andam por aí
o raio do miúdo atingido
as sobrancelhas que nos metem em sarilhos
o cheiro das couves e dos pobres
o cheiro de todas as coisas vitais
do suor dos cozinhados dos cigarros
do mais comum dos mortais
Embebidas as tábuas do chão
sob as lâmpadas cruas do último patamar
donde o calor tórrido do luar
não nos deixa mais sonhar.
E sacudir um fósforo apagar
do último sopro do mutante
as narinas de um morto
no fedor frágil e cristalino das estrelas
acabadas de nascer dos buracos
É fedor da vida.
o aroma das latas de lixo
das cartas acumuladas no correio
a mistura putrefacta dos colchões de palha
garrafas de leite azedado em melancolia
e uma licença de porte de feio.
Valha-nos Deus.
Os olhos inchados de insónia
os sovacos de carrapatos colados
e as unhas dos pés enrolando caracol
que Diabo!
Essa posse que nos come de fome
brilham os pratos de ausência
e os copos arejam a sede imensa
E o joalheiro a fazer entregas de madrugada
entregas de fatias de cinema
e romances de lenço encharcado
de perfumes caros
Oh estranho pugilista o ser ponto de vista
de paredes espancadas de eufemismo

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