terça-feira, 5 de maio de 2015

diálogo interno



na concavidade de um ninho
adormece um homem embrião
tentilhões e pintassilgos no grande fosso
que é esse céu que parece intocável
uma espécie de condenação ao osso
no marulhar de ondas de ar
quando se impõe respirar
cisnes brancos atravessam as montanhas
o bosque que se colhe à beira do caminho
mandriando o pesar de um peixe-espinho
guardado dentro peito
uma luz terna que alumia às escondidas
o trepas das clareiras e ribanceiras abruptas
e os lábios contraídos pela acidez
desse suor quase humano
e recolhe para si uma libélula azul
dentro de um fresco espera
manchas de lua dando voltas ao pátio
essa fenda palatina que tem no regaço
cachos frágeis para o trágico destino
e nos calcanhares o atlas
depois o fluxo da maré
de apanhar em voo à mão
lápis de cor para o olhar
e no rugido surdo de um animal
o saber imitar e amar
como se tudo fosse um biombo
para bagos translúcidos
mas o caos é amorfo e morno
as sombras mármores
e das pontes suspensas de nuvens
a queda para a solidão é o encontro
a queda desse ninho de pequenas simetrias
sem pressas mas com teimosias
quando a régua é o poema
e a terra a medida
para caminhar de pé
sobre o espírito que materializa
diáfano impróprio à vida obscura
pela falência do absoluto.
aquele que não ama.
sobre as imagens incompletas
é arrancado do sonho sem esqueleto
e arrendado ao vento para semente
do medo

- tenho medo da escuridão
engolindo a terra e o céu
e que o paraíso
algodoado antes de musgo e sangue
o leito dos amantes
seja deixado sem vela nem guarda
e que pela estrada alcatroada
criaturas da escuridão na penumbra
assombrem os corações dos mais aflitos
gamas diversas de medos
fontes da mais tenebrosa das posses
de tê-lo agarrado com as minhas próprias mãos
e dessas mesmas mãos infieis tê-lo escapado

- não tenhas
tudo o que precisas é de um lápis azul
e deixar que essas vozes secretas sejam
a todo o momento
para o quase animal instinto
até de olhos fechados
de olhos para a escuridão
dentro da escuridão
que o coração será sempre iluminando
nesse quase seguro caminho

quase tão certo como ser côncavo e concreto
o regresso ao ninho

- vai, estua de eterno
(a adivinhação arredondada do sonho)
- não me largues da mão então

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