terça-feira, 14 de maio de 2013

Anda Lourdes arreda esse móvel daí, depressa!
que a galinha foge e o caldo arrefece
e as pedras estão negras, tá mal lavado
mas o que é andaste a fazer toda a manhã?
arruma isso não quero brinquedos espalhados
e esse quarto! uma pocilga! nem os porcos
nem esses Lourdes vivem como tu !
...
Pega-lhe fogo, mete à panela
e todo o sangue vai dar arroz de cabidela
e a régua onde está a minha régua?
Está escondida minha malvada
pois quando a encontrar vai a dobrar!
...
Não é poesia que é dolorosa, é a vida!
...
E a certeza do que virá já foi escrito
...
Lamento
Mas o meu lamento nem sequer se aproxima
de uma realidade coada e recobrada e calcinada
nas memórias de uma velha, que coitada... hoje
reza as amarguras depositando-as nas netas

Avó,
quando tu partires prometo recordar o melhor
dos teus bifes, dos doces das receitas das lilis
das histórias da rapozeca, das viagens juntas
dos teus livros, do toucador que já foi vendido

Prometo Lourdes
que tudo isso ficará imaculado
da amargura, da falta de amor falado
e os gestos, esses gestos pequenos
serão gigantes no meu escrito
...
Assim está bem?
Ah ainda se fosses doutora!
E o pior é que és
mas se tivesses outra vida!




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