DE NOITE
todos os gatos são pardos
de noite há cavalos alados
por ela a dentro
marchando incógnitos os sonhos
agulhas cozendo momentos
entrega de contos ao esquecimento
e linhas escrevendo na bruma
à beira de um retalho diurno
o desespero do absurdo
embalando o destino
todos os mares são negros
e a lua revela mantos
e o vento é assobio
corvos assassinos
a noite é ainda menina
tão cedo a alvorada
e o desespero do dia
sonhar acordado
os pés que flutuam
o impressionismo emerge
é o sol que nasce
na asa de um pássaro raro
ir à boleia de uma nuvem
de olhos fechados
e o desespero de cair
levanta a voz
lá no alto um rapaz
reviravolta pirueta
mete os corvos na jaqueta
dirigível veloz
arco e flecha capaz
abre os olhos agora
e o desespero vai embora
bola de sabão
lá dentro em rotação
rolamento alucinado
no umbigo embrionário
um enjoo de felicidade
de nascer tão à parte
essa vontade de querer
que o desespero não volte
DE NOITE
todos os factos são pardos
de noite há passados atormentados
por ela a dentro
marchando incómodos os sonhos
agulhas moendo momentos
entrega de pontos ao alheamento
e linhas insistindo na fusa
à procura de um atalho de fuga
o desespero pela cura
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