Dentro de uma palavra um lugar sombrio pesado
um espaço de clausura como um livro deitado
uma campa, várias campas sobrepostas
assim na prateleira, nas prateleiras da estante
encobrindo o raio de sol que insiste lá de fora
donde não se quer que venha nada, e à força
rompe a noite a cortina de mais um dia abafante
e os títulos e as lombadas que a miopia turva
não dizem senão o que foi de antiga leitura
que muitas vezes até se repete na companhia
de letras e letras que se combinam numa magia
que dentro da cabeça graças a deus anestesia
e na mesa a toranja e os cigarros, o álcool
e se pudessem ser fumadas, as cabeças
que no armário vão secando caso de apenas
uma emergência mas está claro, a paranóia
e a descrição do que vai lá dentro, pouca
tanto mistério e uma vida que nem sabe
ser vivida e sempre o medo da morte
sempre prometida não se sabe quando
que não importe porque maior a agonia
nada muda, só a claridade fica escura
e lá dentro sempre lá dentro confusa
incapacidade de questão mal resolvida
e se pensar dá trabalho, antes bebida
mal e mal, esta vida assim engendrada
parece o retrato de casa desarrumada
do corpo não lavado, a terra ressequida
de apenas mais um título, aos outros
encostado
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